Último dia para assistir na Netflix o suspense com Rosamund Pike e Ben Affleck, visto por 550 milhões de pessoas Divulgação / 20th Century Studios

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Grandes diretores trazem consigo a expectativa de obras de qualidade inquestionável, cada um com seu próprio ritmo, respeitando o tempo necessário para que a produção atinja seu potencial máximo. Esse processo, por vezes, resulta em intervalos que podem parecer excessivamente longos, mas que são essenciais para a criação de uma obra de arte que, mesmo após finalizada, exige tempo para ser plenamente apreciada.

Roger Ebert, renomado crítico e roteirista norte-americano, certa vez afirmou que “quase nunca importa sobre o que diz um enredo, mas como ele diz sobre o que diz”. “Garota Exemplar”, filme dirigido por David Fincher e lançado em 2 de outubro de 2014, exemplifica essa máxima ao desafiar e enganar a audiência, fazendo-a acreditar em um mistério a ser desvendado, enquanto a verdadeira essência da trama está à vista, mas ainda assim oculta.

Adaptar uma narrativa literária para o cinema é uma tarefa que muitos diretores consideram árdua, muitas vezes comparada ao trabalho de Sísifo. David Fincher, no entanto, supera essa comparação, escalando a montanha da adaptação sem permitir que o roteiro, baseado no livro homônimo de Gillian Flynn, publicado em 2012, perca sua essência. No filme, Nick e Amy Dunne são apresentados como o casal perfeito, com Amy destacando-se ainda mais. Criada como a “Amazing Amy” em livros de autoajuda escritos por seus pais, ela encarna na vida adulta a personagem central dessas histórias, com uma fachada de submissão ao marido, Nick, que esconde suas reais intenções.

A trama, que poderia seguir um caminho previsível de “felizes para sempre”, toma um rumo inesperado com a mudança de Nova York para o Missouri, devido à doença da mãe de Nick. No quinto aniversário de casamento, Nick retorna do trabalho para encontrar a casa revirada e Amy desaparecida. O circo midiático que se segue é esperado, mas quando Nick percebe que tudo foi montado para incriminá-lo, a interpretação de Ben Affleck revela uma indignação calculada que impulsiona a primeira reviravolta da trama, seguida por muitas outras.

O equilíbrio entre os protagonistas é essencial, e Ben Affleck, em uma fase madura de sua carreira, entrega uma performance contida e eficaz. Desde seu sucesso inicial com “Gênio Indomável”, Affleck evoluiu, mantendo uma economia de expressões que se adapta perfeitamente ao papel de um homem envolto em circunstâncias sombrias. Rosamund Pike, por sua vez, entrega uma das atuações mais notáveis de sua carreira, capturando a complexidade de uma mulher profundamente perturbada que se transforma naquilo que mais despreza.

David Fincher utiliza com maestria técnicas narrativas consagradas por Alfred Hitchcock, como a revelação do segredo no meio do filme e a idealização do parceiro. “Garota Exemplar” lança luz sobre as questões eternas do casamento, mostrando que uma união é composta por momentos bons e ruins. Problemas aparentemente insolúveis muitas vezes requerem apenas uma conversa franca, mas essa solução simples se torna inviável diante da imaturidade e do pedantismo.

Este filme não só desafia a audiência a questionar as aparências, mas também explora profundamente as complexidades e as dinâmicas de um relacionamento, tornando-se uma obra de referência na filmografia de David Fincher.


Filme: Garota Exemplar
Direção: David Fincher
Ano: 2014
Gênero: Drama/Suspense
Nota: 9/10