Ganhador do Oscar com Robert De Niro, que arrecadou nos cinemas 11 vezes o próprio orçamento, está na Netflix Divulgação / The Weinstein Company

Ganhador do Oscar com Robert De Niro, que arrecadou nos cinemas 11 vezes o próprio orçamento, está na Netflix

Narrar uma história que visa transmitir uma mensagem de otimismo, mesmo diante de temas graves, é uma tarefa desafiadora, especialmente quando se tenta equilibrar entretenimento com reflexão profunda. “O Lado Bom da Vida” escapa da armadilha de buscar agradar a audiência de maneira superficial, aproveitando-se do carisma inegável de seus protagonistas, cujo valor artístico e financeiro continua a crescer em Hollywood.

Este romance notavelmente anticonvencional revela-se um alívio em meio a inúmeras produções que tentam em vão se passar por histórias de amor genuínas. Em uma das suas obras mais engenhosas, David O. Russell une dois dos atores mais atraentes do cinema atual, retratando-os como personagens desajustados, lidando com sérios problemas psiquiátricos. A partir daí, ele descontrói a doença mental diagnosticada, mas tratada de maneira intermitente, para revelar a profundidade da mensagem que deseja transmitir.

Lançado no Brasil em 2013, o filme apresenta Bradley Cooper de uma maneira completamente diferente da imagem que ele costumava projetar desde seus primeiros papéis na televisão, como em “Sex and the City” em 1999. Construindo uma carreira sólida com disciplina, Cooper talvez tenha encontrado em “O Lado Bom da Vida” o papel mais significativo de sua trajetória. Seu personagem, Pat Solitano Jr., é um explorador de almas, embora não consiga libertar a sua própria.

Ao abordar o distúrbio mental desencadeado em um homem após flagrar a esposa com outro, Russell estava ciente dos riscos que enfrentava. Pat ataca o amante, e essa demonstração inconsciente de virilidade lhe custa caro. Internado em um hospital psiquiátrico por oito meses, ele perde o emprego e, ironicamente, não consegue parar de amar sua ex-mulher Nikki. Forçado a cumprir uma medida restritiva que o obriga a manter distância de Nikki, Pat passa a viver com seus pais, Dolores e Pat Sr., interpretados por Jacki Weaver e Robert De Niro, respectivamente.

Weaver, em grande forma, repete o brilhantismo de “Reino Animal” (2010), eclipsando De Niro em vários momentos. O enredo ganha impulso com a entrada de Jennifer Lawrence, cuja personagem, Tiffany, responde ao trauma da perda do marido com comportamento promíscuo, resultando em sua demissão. Pat e Tiffany se encontram em um jantar organizado por Veronica e Ronnie, e rapidamente desenvolvem uma atração única.

A transformação de Pat e Tiffany, de vilões a heróis, é o verdadeiro núcleo do filme. Ambos desafiam as normas sociais à sua maneira, criando personagens complexos e imprevisíveis. A ironia precisa de Russell ao retratar Pat como louco por adotar comportamentos considerados normais e a promiscuidade destrutiva de Tiffany trazem profundidade ao filme. Pat, buscando restaurar sua honra, acaba isolado em um hospital psiquiátrico, enquanto Tiffany, perseguida por seu comportamento, vive em uma edícula na casa dos pais.

À medida que se aproximam, Pat e Tiffany descobrem pontos de conexão e de repulsão em suas personalidades. Pat, apesar de toda a sua desgraça, ainda ama Nikki, um fato que Tiffany usa a seu favor. Ela se oferece para entregar uma carta de Pat a Nikki, desde que ele concorde em ser seu parceiro em um concurso de dança. A química entre Cooper e Lawrence, já alvo de muitas especulações, se mostra essencial para as cenas memoráveis do filme.

Cooper, sem o mesmo apelo de estrela que Lawrence, teve que se esforçar para manter o frescor de seu personagem. Optando por uma performance minimalista, ele deixa espaço para Tiffany brilhar no momento certo, mostrando uma atuação comovente que revela a força oculta por trás de um homem abatido pela vida. Sua performance lhe rendeu merecida consideração ao Oscar, enquanto Lawrence ganhou o prêmio de Melhor Atriz por este trabalho.

“O Lado Bom da Vida”, na Netflix, não é apenas uma competição entre dois grandes atores, mas uma harmonização de todos os elementos em uma narrativa coesa e precisa. A ideia de reconstrução da vida e reordenação dos afetos se torna clara para o público, mesmo diante de curvas inesperadas na trama.


Filme: O Lado Bom da Vida
Direção: David O. Russell
Ano: 2012
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 10/10