Com influências de Sartre e Nietzsche, filme com Julia Roberts, na Netflix, vai perturbar sua mente Divulgação / Netflix

Com influências de Sartre e Nietzsche, filme com Julia Roberts, na Netflix, vai perturbar sua mente

Sam Esmail, conhecido por seu trabalho com temas sombrios e distópicos, aborda em “O Mundo Depois de Nós” uma narrativa que explora a autodestruição humana e questões sociais contemporâneas. O diretor habilmente mescla essas questões com aspectos mais terrenos da realidade, como o racismo, uma palavra cuja existência desafia a lógica e que, idealmente, deveria estar extinta. Esmail não se limita a renomear problemas; ele propõe uma abordagem direta e quase panfletária, ecoando a crítica mordaz de Rumaan Alam, autor do romance que inspirou o filme. O resultado é provocador.

Amanda Sandford representa o desespero niilista do nosso tempo. Sua vida em um apartamento de luxo no Brooklyn é marcada por um descontentamento oculto, simbolizado pelas paredes de um azul intenso, descascando e cortadas por rachaduras. Em um monólogo preciso, ela revela seu desprezo por aqueles que saem todos os dias para trabalhar, tentando melhorar o mundo e a si mesmos. Julia Roberts, em uma atuação memorável, domina a tela com um olhar cínico e distante, antecipando o desfecho trágico do filme roteirizado por Esmail.

A cinematografia de Tod Campbell mantém uma luminosidade que contrasta com o tom sombrio do enredo. Roberts conduz a narrativa enquanto Amanda aluga uma casa de campo em Long Island para passar um fim de semana com seu marido, Clay (interpretado por Ethan Hawke), e seus filhos, Rose (Farrah Mackenzie) e Archie (Charlie Evans). A partir desse ponto, a normalidade começa a desmoronar.

Problemas técnicos, como a queda do Wi-Fi, e eventos catastróficos, como o naufrágio de um navio, aumentam a sensação de apocalipse iminente. Quando um homem negro, G.H. Scott (Mahershala Ali), e sua filha, Ruth (Myha’la), batem à porta, alegando ser os proprietários da casa e relatando um apagão em Nova York, Amanda reage com ceticismo e preconceito, não acreditando que um negro possa possuir a mansão. Ali e Roberts oferecem performances poderosas, com Amanda cedendo gradualmente, mas mantendo seus preconceitos sob a fachada de proteção à família.

Esmail costura um humor negro ao estilo de “Não Olhe para Cima” de Adam McKay com a crítica social afiada de “Corra!” e “Não! Não Olhe!” de Jordan Peele. A conclusão do filme lembra o episódio final de uma série, revelando o lado mais mesquinho e cômico da humanidade.


Filme: O Mundo Depois de Nós
Direção: Sam Esmail
Ano: 2023
Gêneros: Thriller/Drama
Nota: 9/10