A adolescência é um período caracterizado por uma sensação de desconexão com o mundo e consigo mesmo, uma insatisfação generalizada e um desejo intenso de transformação, embora sem clareza sobre como proceder. Esses sentimentos, presentes em jovens como Adam Petrazelli, protagonista de “Palavras nas Paredes do Banheiro”, frequentemente resultam em consequências negativas. A falta de uma identidade definida, combinada com uma energia física abundante e uma tendência natural a desafiar limites, muitas vezes leva a comportamentos que culminam em isolamento social, conflitos com a lei, crimes e, eventualmente, confinamento em instituições estatais. Estas instituições, por sua vez, nem sempre possuem os recursos necessários para promover a reabilitação e reintegração desses jovens à sociedade.
Thor Freudenthal parece querer despertar no público uma empatia profunda pelo protagonista de seu filme, que luta para se manter no que é considerado normalidade enquanto enfrenta uma doença mental severa. O roteiro de Nick Naveda, uma adaptação do romance de Julia Walton, explora a árdua jornada de Adam para recuperar uma vida fragmentada antes mesmo de se desenvolver plenamente. Este processo de recuperação, embora dependente do próprio Adam, também requer o apoio e o compromisso de outras pessoas, além de uma dose considerável de paixão, tornando a história verdadeiramente envolvente.
Os desafios que Adam enfrenta são muitos, e um diagnóstico de glaucoma seria um alívio em comparação com a realidade de suas alucinações visuais. Infelizmente, não é uma doença oftalmológica que causa suas visões, mas sim uma condição mental que o leva a interagir com pessoas que apenas ele pode ver. Charlie Plummer, interpretando Adam, conduz o público por uma jornada dolorosa de autodescoberta, revelando as verdadeiras chances de seu personagem superar seu inferno pessoal e encontrar uma nova fase em sua vida. Surpreendentemente, é na cozinha que Adam descobre uma habilidade natural, e é entre facas e utensílios que ele encontra uma estranha forma de paz, onde suas alucinações finalmente cedem.
Freudenthal costura cuidadosamente os pontos sugeridos por Naveda, incluindo a complexa relação de Adam com sua mãe, Beth, interpretada por Molly Parker, que se esforça para cuidar do filho enquanto lida com suas próprias questões pessoais. O relacionamento dela com Paul, vivido por Walton Goggins, adiciona outra camada de complexidade à vida de Adam, resultando em um evento traumático no laboratório de química da escola após seu primeiro surto psicótico.
A narrativa se intensifica quando Adam encontra apoio inesperado nas paredes do banheiro masculino, um espaço também frequentado por Maya, uma brilhante estudante de matemática interpretada por Taylor Russell. Sua presença e inteligência dominam o filme até o final, sendo ela a chave para evitar o destino sombrio que parecia inevitável para Adam. A história de amor entre esses dois jovens, ainda puros e cheios de esperanças, oferece um desfecho otimista e tocante.
Filme: Palavras nas Paredes do Banheiro
Direção: Thor Freudenthal
Ano: 2020
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 8/10