A melhor comédia romântica dos últimos 2 anos acaba de estrear na Netflix, com Jennifer Lopez e Owen Wilson Divulgação / Universal Pictures

A melhor comédia romântica dos últimos 2 anos acaba de estrear na Netflix, com Jennifer Lopez e Owen Wilson

O passar dos anos tem feito bem a Jennifer Lopez. Como só poderia mesmo acontecer nos Estados Unidos, a filha de imigrantes porto-riquenhos nascida em Hell’s Kitchen, um dos distritos mais violentos do Bronx, por seu turno um dos bairros mais perigosos de Nova York, domina o mercado fonográfico mundial desde o fim dos anos 1990, quando estourou com “If You Had My Love” (1999), e de lá para cá, vem demonstrando um desvelo cada vez maior para com o cinema, onde tem o cuidado de procurar fugir de rótulos. 

De “Jovens em Conflito” (1987), sua estreia na tela grande pelas mãos de Connie Kaiserman, diretora do longa, ao arrasa-quarteirão “Anaconda” (1997), de Luis Llosa, e daí para as histórias que de fato merecem ser contadas, Lopez cresceu como artista e como mulher e soube muito bem chegar a projetos em que ora arriscava-se, ora mantinha-se na confortável posição de vamp, seduzindo homens e mulheres de oito a oitenta, exatamente como se assiste em “Case Comigo”. 

Cheia de referências metalinguísticas, a comédia romântica de Kat Coiro reoxigena a graphic novel de Remy “Eisu” Mokhtar e Bobby Crosby publicada em 2020, e deixa a protagonista livre para improvisar o quanto queira, e Lopez não deixa por menos. Revisitando os episódios constrangedores ao longo de uma carreira de quase quarenta anos, a atriz-cantora-dançarina-coreógrafa molda a seu talante o roteiro de Harper Dill, John Rogers e Tami Sagher, chegando a um resultado que surpreende.

No mundo ideal, amor e dinheiro ocupariam cada qual seu próprio universo, saberiam de sua respectiva importância e jamais atrever-se-iam a cruzar o caminho um do outro, justamente por dependerem de coisas distintas para existir. 

Na vida como ela é, entretanto, é quase impossível que uma relação sólida consiga se manter sem a presença de assíduas transações comerciais e financeiras mais ou menos complexas, planilhas de gastos e custos, caixas que guardam notas fiscais, investimento do (pouco) que sobra, expediente que, longe de arruinar namoros longos, noivados promissores ou casamentos firmes, contribui para aumentar as chances de tudo permanecer correndo com alguma ordem, atenuando o peso do tempo. 

Casamento é loteria. Homens e mulheres casam-se pelos motivos mais variados e incongruentes entre si, havendo ou não espaço para o amor. Em circunstâncias como as colhem Kat Valdez, a estrela pop incorporada, claro, sem esforço por Lopez, o que fica parecendo é que, a certa quadra da vida, a solidão, a tristeza, a carência de tudo torna-se tão insuportável que há que se tentar qualquer medida para debelá-la, sendo a união com uma pessoa com quem se compartilha alguma afinidade a mais óbvia.

Kat rompe o filme ensaiando o número que pretende apresentar com o noivo, Bastian, no encerramento da turnê de “Marry Me”, o show com que vem lotando estádios em todo o mundo. A diretora erige uma estimulante crítica sobre o mundo cão do mundo do espetáculo, em que, primeiro, algum boçal convence Kat a selar seu compromisso com Bastian no palco, diante de dezenas de milhares de pessoas, mais os cerca de vinte milhões de telespectadores, deixando claro seu desprezo pela individualidade da moça. 

Depois, como não poderia ser de outro modo, ela é obrigada a declinar da tal proposta cantada na música, e Maluma cede espaço a Charlie, o professor de matemática do ensino fundamental de Owen Wilson, que vai parar ali por razões que só mesmo Hollywood acredita serem plausíveis. Por paradoxal que soe, Lopez e Wilson acabam desenvolvendo uma afinidade satisfatória, e em poucos minutos ninguém mais se lembra do rostinho bonito do colombiano. Uma das proezas de Jenny da Quebrada.


Filme: Case Comigo
Direção: Kat Coiro
Ano: 2022
Gêneros: Romance/Comédia
Nota: 8/10