A encantadora e adorável historinha de amor do Prime Video: o melhor filme que você verá esta semana Divulgação / Lionsgate Films

A encantadora e adorável historinha de amor do Prime Video: o melhor filme que você verá esta semana

Talvez a grande serventia das redes sociais seja a divulgação, quase em tempo real, de uma cornucópia de vídeos protagonizados por cães, gatos e bebês, nessa ordem, cada qual lançando sua carga de dopamina sobre usuários ingênuos. 

Perspicaz, a indústria cinematográfica tem sabido captar o fenômeno e transformá-lo numa nova modalidade de entretenimento, aproveitando, por óbvio, para faturar alto com a exposição de produtos voltados a essa faixa de consumidores — sem mencionar a própria necessidade de mais cuidado para com o tema da adoção, nesse caso de canídeos e bichanos. 

“Puppy Love” (“amor de cachorrinho”, em tradução literal) fica a um passo da campanha publicitária, em cujo miolo os diretores Nick Fabiano e Richard Reid juntam imagens meigas o bastante para derreter o mais férreo dos corações. A parceria entre o estúdio Lionsgate e o BuzzFeed, a gigante americana de difusão de notícias, vinga até o ponto em que os roteiristas Greg Glienna, Kirsten Guenther e Peter Stass são capazes de esconder propósitos nem tão fofos, como vender uma certa marca de queijo ou enaltecer os serviços de uma companhia de entrega de refeições. Ainda assim, a história tem alguns trunfos, a começar dos dois casais que encabeçam o filme.

Filmes com animais sempre hão de receber do público a imediata atenção que histórias sobre homens comuns e mulheres corajosas levam bons minutos para conquistar — exceção reservada às tramas sobre crianças-prodígio ou as que enfrentam doenças inexplicáveis, de que muitas vezes acabam não escapando. 

Nas raras vezes em que conseguimos esquecer, pelo espaço de um instante que seja, as muitas comodidades da vida pós-moderna e nos voltamos para o que pode haver de mais trivial na essência de cada um, encontramos no mais fundo de nosso espírito algumas das respostas pelas quais procurávamos há muito tempo, quiçá desde que abrimos os olhos para a luz do mundo. Essa busca, ora insana, ora de uma racionalidade assombrosa, até parece a caminhada errante do último poeta, perdido em suas vãs quimeras, saboreando o gosto do beijo de um anjo enquanto atravessa o arco-íris, sequioso de seu quinhão de ouro.

Não poderia haver duas criaturas mais diferentes entre si que Max Stevenson, o especialista em tecnologia da informação vivido por Grant Gustin, e a decoradora Nicole Matthew, de Lucy Hale. Enquanto o apartamento da personagem de Hale mais parece um aterro sanitário coberto, com embalagens de comida por toda parte e peças de roupas pelo chão, a casa de Max é um verdadeiro santuário, em que visitas ocasionais (e sempre indesejadas) devem sujeitar a um verdadeiro, que inclui tirar os calçados e besuntar mãos com álcool em gel e vestir uma máscara cirúrgica. 

O carisma de Gustin e Hale, contudo, disfarça o mal-estar fundamental que o temperamento deles inspira, e à medida que tornam-se críveis na pele de gente “normal” — ou menos problemática —, é possível acreditar que de fato amem Chloe e Channing, os cachorros que chegam a suas vidas em circunstâncias e razões diametralmente opostas. Mais que o par de homo sapiens sapiens, são Essy e Fancy Pants, a cocker spaniel americana e o vira-lata que nos pegam pelo coração. Mormente depois que esse amor improvável dá cria.


Filme: Puppy Love
Direção: Nick Fabiano e Richard Reid
Ano: 2023
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 7/10