Ganhador de 6 Oscars, filme mais importante da carreira de Tom Hanks está na Netflix Divulgação / Paramount Pictures

Ganhador de 6 Oscars, filme mais importante da carreira de Tom Hanks está na Netflix

Talvez seja difícil encontrar espaço no cinema atual para filmes como “Forrest Gump — O Contador de Histórias”. Este filme, um misto de sonho e realidade, captura os pensamentos mais autênticos e, ao mesmo tempo, mais insanos de um homem que desde cedo percebeu que nunca se encaixaria no mundo ao seu redor. Em vez de se adaptar, ele criou um universo vasto e detalhado para si mesmo, sustentado pelo escárnio de todos ao seu redor.

O filme é uma combinação feliz do roteiro impecável de Eric Roth e Winston Groom (1943-2020), da direção inspirada de Robert Zemeckis, dos efeitos especiais supervisionados por Allen Hall e, claro, de um elenco fabuloso liderado por Tom Hanks. Mesmo sendo um dos rostos mais conhecidos do mundo em 7 de dezembro de 1994, quando o filme estreou, Hanks, com seu carisma magnético e talento refinado, deu um passo gigantesco em sua carreira. Ele se consagrou de uma vez por todas como um dos grandes heróis de Hollywood. O senso de humanidade de seu personagem convence-nos de que todos têm um lado Forrest, que tendem a sufocar ao longo da vida, para o bem ou para o mal.

Forrest esteve presente em todos os grandes eventos da História entre os anos 1950 e 1980. Talvez fosse mesmo um parente distante de Nathan Bedford Forrest (1821-1877), comandante das tropas sulistas na Guerra Civil Americana e o primeiro Grande Mago da Ku Klux Klan. Embora este detalhe passe despercebido, é crucial para entender uma das facetas do complexo personagem de Hanks, um “idiota útil” com uma inteligência peculiar que lhe permite absorver uma quantidade extraordinária de informações sem compreendê-las totalmente.

Nas cenas iniciais, a enfermeira que aguarda o ônibus no banco ao lado de Forrest demonstra inicialmente aversão e pânico. No entanto, Rebecca Williams, a atriz britânica que a interpreta, gradualmente muda essa expressão para compaixão e empatia, até que sua condução chega e ela vai embora. Nem Roth e Groom, nem Zemeckis exploram profundamente o possível autismo de Forrest, provavelmente mais por desconhecimento do que por preocupação com o politicamente correto, que já começava a se organizar na época. Em vez disso, destacam a relação doentia entre Forrest e sua mãe, que até se prostitui para garantir que seu filho, mesmo com um QI de 75, possa estudar em uma escola inclusiva. Sally Field, em uma atuação dramática e confortável, engrandece não só o trabalho de Hanks, mas o filme como um todo.

O diretor Robert Zemeckis propõe explicações para a formação social de Forrest. Durante a Guerra do Vietnã, ele se torna amigo de Benjamin Buford Blue, conhecido como Bubba, um soldado negro cuja deficiência física não impede seu alistamento, e que acaba morrendo no sudeste asiático. Mykelti Williamson, que interpreta Bubba, complementa a mensagem que o protagonista quer transmitir. Com flashbacks e inserções de eventos históricos, como o atentado contra o governador do Alabama, George Wallace, e fragmentos de imagens sugerindo a participação de Forrest nas grandes revoluções culturais do século 20, incluindo interações com Elvis Presley e John Lennon, o filme sugere que Forrest pode ser a consciência crítica de um tempo que o ultrapassou.

“Forrest Gump”, na Netflix, é mais do que uma história sobre um homem incomum. É uma reflexão sobre a aceitação, a luta pessoal e a interseção entre a ingenuidade e a sabedoria. A jornada de Forrest, que corre até alcançar seu destino, representa uma busca incessante por propósito e compreensão em um mundo que muitas vezes não faz sentido. Este filme é uma obra-prima única, cujo impacto é difícil de replicar na era moderna do cinema.


Filme: Forrest Gump — O Contador de Histórias
Direção: Robert Zemeckis
Ano: 1994
Gêneros: Drama/Comédia/Fantasia 
Nota: 10