Relaxem, a Pixar conseguiu! Fez uma continuação decente de “Divertidamente”. E o melhor: evitou cair na armadilha fácil de apenas colocar os personagens em uma nova aventura. Em vez disso, o estúdio nos dá uma história que é uma evolução natural do filme anterior, trazendo uma nova carga emocional. Prepare-se para sentir um nó na garganta em alguns momentos e ficar com o coração quentinho. Sério, estou avisando: você vai querer abraçar as pessoas na saída do cinema.
É uma ótima notícia, porque a Pixar já derrapou em continuações, como nos preguiçosos “Carros 2 e 3” ou “Toy Story 4”. Aqui não tem derrapada. É a história que todos nós queríamos ver: acompanhar a entrada de Riley na adolescência. O cérebro da garota volta a ser o cenário principal, mas agora Alegria, Raiva, Medo, Tristeza e Nojinho precisam abrir espaço para novas emoções que chegam com a puberdade: Tédio, Inveja, Vergonha e Ansiedade.
Riley é convidada para um acampamento de hóquei com suas duas melhores amigas, mas encontra uma chance de se enturmar com garotas mais descoladas. Ansiedade se empenha em fazer com que a garota explore qualquer oportunidade de ser aceita pelas novas colegas. E isso coloca em risco a própria identidade da garota, que é essencialmente uma boa pessoa.
A graça do primeiro “Divertidamente” vinha, em parte, da ideia criativa de mostrar o cérebro humano organizado como se fosse uma empresa: existem funcionários de manutenção, criadores de sonho etc. Foi uma ideia tão boa que se Freud estivesse vivo, iria abandonar suas teorias e dizer que o filme faz mais sentido. Mas na continuação não haveria novidade em explorar essa analogia. Por isso, mais do que apresentar novos personagens e novas regiões do cérebro, a história gira em torno de novos dilemas que surgem com o amadurecimento. Dilemas que eu, você e todo mundo enfrenta. E você achando que era só um filme com personagens coloridos e fofinhos, né? É mais do que isso.
Com essa simples escolha, a Pixar usa os personagens para trazer novos questionamentos. E você vai se identificar com todos eles. E essa era a verdadeira magia do filme anterior, que se mantém intacta no novo filme. Qualquer ansioso (eu, por exemplo) vai se identificar com o modo de agir de Ansiedade: ela é elétrica, neurótica e está sempre antevendo milhares de cenários futuros para livrar Riley de possíveis fracassos.
Aposto uma grana como pelo menos um dos roteiristas é da turma que toma ansiolítico. Todas as emoções de Riley são as mesmas que você vive ou viveu em algum momento da vida. Ei, o que mais a gente pode esperar de uma animação? Essa é a chance que “Divertida Mente 2” dá a você: rir dos seus próprios defeitos e fazer as pazes consigo mesmo. Se todos fizessem isso diariamente, talvez o mundo fosse um lugar mais humano para se viver. Enquanto não dá para mudar o mundo, vá ao cinema e veja esse filme. Compensa todas as cargas de neuroses que acompanhar o noticiário nos traz. Obrigado, Pixar, por não desistir da gente.