Ria, chore e cure-se: a comédia romântica da Netflix que fará seu coração sorrir Divulgação / TriStar Pictures

Ria, chore e cure-se: a comédia romântica da Netflix que fará seu coração sorrir

O Natal tem uma natureza divisiva, e o cinema oferece inúmeros exemplos que corroboram essa observação. Parece que grandes tragédias, tanto pessoais quanto globais, escolhem este período mágico no final do ano para se manifestar, rompendo barreiras e emergindo com força total, deixando um rastro de corações partidos e lágrimas, às vezes até sangue. Desde “Se Meu Apartamento Falasse” (1960), de Billy Wilder, um clássico atemporal, passando por “Esqueceram de Mim” (1990), dirigido por Chris Columbus, até “O Grinch” (2000), de Ron Howard, e “O Estranho Mundo de Jack” (1993), de Tim Burton e Henry Selick, as celebrações natalinas sempre foram uma fonte rica de grandes histórias. Com “Happiest Season”, Clea DuVall repete o fenômeno, adaptando-o ao contexto contemporâneo.

Clea DuVall renova clichês desgastados que a indústria cinematográfica já utilizou inúmeras vezes, trazendo um ponto de vista único sobre problemas que se perpetuam ao longo do ano, mudando apenas de desejos e sonhos com a chegada do novo ano, enquanto as antigas mazelas humanas continuam. Sendo abertamente homossexual, a diretora aborda questões delicadas que, felizmente, estão sendo discutidas com mais frequência, mesmo em lares conservadores, usando o pano de fundo das celebrações natalinas. A ideia é que, se o espírito de renovação, benevolência e autotransformação permeia a mente de todos durante essa época, é justo que velhos preconceitos sejam abandonados e que se tente seriamente criar um novo tempo de entendimento.

“Happiest Season” inicia a programação de filmes natalinos das plataformas de streaming com uma perspectiva decididamente positiva. O Natal muda, e nós mudamos com ele; o que antes era tabu agora é discutido abertamente, e mistérios se revelam. A trama gira em torno da família Caldwell, cuja fachada perfeita é desmascarada no terceiro ato do filme. Enquanto isso, Harper e Abby, interpretadas respectivamente por Mackenzie Davis e Kristen Stewart, exploram as decorações natalinas em Pittsburgh, oferecendo ao espectador um vislumbre das diferenças entre seus mundos.

Harper, a típica garota rica que vive uma vida confortável com seus pais, Ted e Tipper, representa a elite sem noção. Ted, em campanha para se tornar prefeito com o apoio financeiro de empresários locais, como Harry Levin, e Tipper, que aspira ser a primeira-dama da cidade, estão mais preocupados com aparências do que com a verdadeira felicidade de Harper. Harper, por sua vez, está tão envolvida nesse mundo de privilégios que ignora os sentimentos de Abby, sua namorada. Abby sofre em silêncio o desprezo de Harper, e essa dinâmica de humilhação é um dos pontos fortes do roteiro de DuVall e Mary Holland, que sabem extrair o melhor das atrizes.

O filme também aborda questões incômodas como o casamento inter-racial de Sloane, irmã de Harper, e Eric, que fracassa não pela diferença racial, mas por outras razões mais complexas. DuVall desafia a vigilância do politicamente correto, tratando os personagens de forma realista, sem categorizações limitantes. À medida que o tempo passa, vemos Harper e Abby enfrentando suas dificuldades e, ao final, no teatro Guthrie, onde assistem ao clássico “A Felicidade Não Se Compra” (1946), de Frank Capra, elas parecem finalmente prontas para viver juntas, mostrando que, apesar de tudo, a vida pode ser maravilhosa.


Filme: Happiest Season
Direção: Clea Duvall
Ano: 2020
Gêneros: Drama/Comédia
Nota: 8/10