“Não quero”. “Não gosto”. “Não enche”. “Fique aqui”. “Faço questão”. “Estou a fim”. “Fale direito comigo”. “Prefiro de outra forma”. “Isso não me agrada”. “Vou ligar, deu saudade”… existem milhões de frases curtas e palavras simples que insistimos em transformar em enormes nós na garganta. Optamos por engolir verdades, abafar afagos e cultivar novelos de mágoa no peito à medida que abrimos mão de verbalizar o que sentimos. Rendidos à teoria furada de que o silêncio é o melhor remédio, sufocamos a solução para boa parte das dores de cabeça que nos assolam: a comunicação.
Em algum momento perdemos a capacidade de dialogar. Instituiu-se a perigosa falácia de que ignorar é a resposta ideal e a consequência disso são mal-entendidos bobos minando relações preciosas. É aí que a piada infeliz que o colega de trabalho soltou, o presente que o marido se esqueceu de levar no aniversário de casamento e a ligação que você esperava do amigo e não recebeu são transformados em rosnadas e ressentimentos. A desconfortável sensação de que erraram conosco se converge em descontentamento prolongado pelo orgulho ferido. Tempos depois você descobre que um mero “ei, algo está me incomodando e preciso falar a respeito” economizaria dissabores e rupturas tolas.
Dizer o que se sente é colocar-se em primeiro lugar e conceder à vida adulta a maturidade que ela requer. É se dar o direito de expor, sem máscaras e jogos, vontades legítimas, que podem (e devem) ser postas na mesa. Não me refiro à verborragia sem freio que confunde falta de limites com liberdade de expressão. Refiro-me à libertadora possibilidade que temos de substituir as entrelinhas pela necessária e eficiente clareza de sentimentos. A vida melhora 100℅ quando a gente aprende que o subtendido é perda de tempo e elege o “preto no branco” como regra de conduta.
É dizer “não quero ir porque estou com preguiça” sem inventar que o carro pifou. É perguntar “qual o problema?” para quem desapareceu do nada. É falar “eu me preocupo e por isso quero estar perto” para quem é importante. É evidenciar para o seu funcionário o que espera dele, pedir para a tia mandona parar de se meter, externar para o companheiro que ele tem sido arrogante, solicitar sem constrangimento a folga de que precisa no trabalho. Combinar encontros, recusar propostas, propalar em alto e bom som desejos adormecidos.
No final das contas percebemos que tudo começa a fluir e que quem realmente se importa ouve, assimila e reconsidera posturas. Percebemos que a vaidade que o ego tem em se calar vale bem menos que as vantagens de soltar o que está reprimido. Entendemos que pagamos um preço alto pela inércia de esperar que o outro aja como gostaríamos sem que tenhamos manifestado o que queremos. No final das contas concluímos que nos estressamos com quem sequer imagina que agiu mal e que é insano esperar que adivinhem. Existe um mecanismo mais eficaz e viável do que bola de cristal — a boa, velha e indispensável conversa.