“Atração Fatal” é um filme que suscita controvérsias, e não apenas por suas cenas explícitas de luxúria. O enredo, muitas vezes impulsionado por atos sexuais, revela camadas mais profundas ao abordar temas como machismo, a independência feminina acompanhada por uma busca desesperada por companhia masculina, a hipocrisia disfarçada nos encontros casuais e a inevitável solidão que assombra a todos. Adrian Lyne, com sua direção perspicaz, transforma o roteiro de James Dearden em uma fervente mistura de emoções que lentamente chegam ao ponto de ebulição. Os protagonistas expõem suas facetas mais sombrias, em uma dança de ataques e defesas, prenunciando uma tragédia íntima que poderia ter sido evitada.
Michael Douglas interpreta Dan Gallagher, um advogado aparentemente feliz em seu casamento de nove anos, pai de uma filha de seis anos, Ellen, e profundamente apaixonado por sua esposa, Beth. Sua vida segue um curso tranquilo até que ele cruza com Alex Forrest, interpretada por Glenn Close, em um evento corporativo. O que começa como uma conversa inofensiva e evolui para um encontro sexual intenso deveria ter sido apenas uma aventura para Dan. Ele deixa claro para Alex que é comprometido, acreditando que ela compreenderia e respeitaria seus limites.
No entanto, Alex não aceita a superficialidade do relacionamento e começa a aparecer incessantemente na vida de Dan. Ela vai ao escritório dele, liga durante a madrugada, danifica seu carro com uma substância corrosiva e, em um ato desesperado, decide confrontar Beth, alegando querer comprar o apartamento que o casal colocou à venda. Essa insistência de Alex transforma a trama em um suspense psicológico onde a tensão aumenta a cada momento.
A cena em que Alex confronta Beth é um dos pontos altos do filme. Adrian Lyne captura essa tensão em um plano-sequência impecável, onde Anne Archer, Glenn Close e Michael Douglas entregam performances memoráveis. Dan, interpretado por Douglas, exibe uma mistura de pânico e repulsa, intensificando a sensação de perigo iminente.
Até o desfecho, o filme mantém o espectador à beira do assento, com eventos cada vez mais perturbadores. Entre as cenas mais chocantes está o momento em que Alex fere gravemente o coelhinho de estimação de Ellen, filha de Dan e Beth, arrancando lágrimas dos espectadores mais sensíveis. A narrativa de “Atração Fatal” oferece diferentes alternativas de final, cada uma explorando as profundezas do desespero e da obsessão.
Adrian Lyne pensou em duas abordagens para o desfecho. Uma delas é original, enquanto a outra parece um reflexo do que se vê em “Quando Se Perde a Ilusão” (1984), de Michael Apted. Apesar de algumas críticas, a essência de “Atração Fatal” reside na exploração do prazer pervertido e na tensão psicológica. A relação entre Dan e Alex é uma montanha-russa de emoções, onde cada movimento é calculado e cada ação tem consequências devastadoras.
“Atração Fatal”, na Netflix, não é apenas um filme sobre um caso extraconjugal que sai do controle; é uma exploração das profundezas da mente humana, dos desejos reprimidos e das consequências inevitáveis de se ceder à tentação. Mesmo com seu final controverso, a produção se destaca como um estudo intenso e perturbador sobre a fragilidade das relações humanas e a sombra da obsessão que pode transformar a vida de todos os envolvidos.
Filme: Atração Fatal
Direção: Adrian Lyne
Ano: 1987
Gêneros: Drama/Suspense/Erótico
Nota: 9/10