Desde os primeiros instantes, é claro o que vai se desenrolar em “A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata”, filme de Mike Newell. Ainda assim, o público se mantém envolvido até o final previsível e sentimental da história. Newell, conhecido por seu estilo tradicional, imprime sua marca neste trabalho, assim como em seus filmes anteriores. Embora “Reykjavik” (2012) seja considerado seu projeto mais meticuloso, “A Sociedade Literária”, lançado em 2018, pode ser visto como um prelúdio espiritual daquele, ao explorar o impacto da Segunda Guerra Mundial em um microcosmo específico.
O filme começa em 1941, com uma tomada grandiosa que revela a beleza do céu sobre a ilha de Guernsey, situada no Canal da Mancha. Esta idílica visão é rapidamente quebrada pela invasão nazista. Soldados alemães interrompem a vida dos habitantes, criando uma atmosfera de tensão e medo. Eben Ramsey, interpretado por Tom Courtenay, reage de maneira justa e natural a essa invasão, enquanto a narrativa avança cinco anos. Em 1946, o Reino Unido luta para se reconstruir após os horrores da guerra. Juliet Ashton, uma escritora londrina interpretada com sensibilidade por Lily James, observa sua cidade devastada e discute com seu editor, Sidney Stark (Matthew Goode), sobre como seguir em frente. Stark, um homem prático e isolado, encoraja Juliet a aproveitar as oportunidades que surgem com a recuperação econômica e a necessidade de escapismo literário.
Juliet, embora ceda parcialmente às sugestões de Stark, está mais interessada em entender como as pessoas comuns estão vivendo nesse período pós-guerra. Decidida a visitar Guernsey e seus habitantes, com quem tem mantido correspondência, Juliet embarca em uma jornada que é tanto física quanto espiritual. Ao chegar à ilha, ela enfrenta pequenos desafios e um encontro decisivo com Ramsey, seu correspondente. A conexão entre Juliet e os moradores locais, que compartilham histórias e experiências, é o coração pulsante do filme.
A chegada de Juliet a esse novo mundo é marcada por incidentes menores dos quais ela sai ilesa, e por um encontro crucial com Ramsey, que molda o curso de sua vida. Esse evento leva Juliet a conhecer melhor os integrantes da sociedade literária local, cujas reuniões a aproximam dos desafios e esperanças daqueles que sobreviveram à ocupação nazista. Charlotte Stimple, uma personagem cética sobre a importância do clube de leitura, interpretada por Bronagh Gallagher, contrasta com a maioria dos moradores, trazendo uma dinâmica interessante à trama.
Durante suas visitas à sociedade literária, Juliet descobre que Elizabeth McKenna, fundadora do clube e personagem interpretada por Jessica Brown Findlay, já não reside mais na ilha. Esse mistério em torno do paradeiro de Elizabeth adiciona uma camada de intriga à história, embora a revelação final seja previsível. As cenas de flashback envolvendo Elizabeth poderiam ser dispensadas, pois diluem o foco na interação de Juliet com os membros da sociedade literária.
O relacionamento de Juliet com o fazendeiro Dawsey Adams (Michiel Huisman) se desenvolve de maneira previsível, substituindo seu noivado com o diplomata Mark Reynolds (Glen Powell). Apesar dessa previsibilidade, o filme mantém um charme poético e emocional que transcende suas falhas. Newell não teme abraçar o sentimentalismo, criando um ambiente onde sonhar com um futuro melhor é não apenas possível, mas necessário. O filme evoca uma nostalgia por uma época em que a humanidade parecia se aventurar em busca de um destino mais brilhante.
“A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata”, na Netflix, não é apenas uma história sobre resiliência e esperança, mas também um lembrete do impacto duradouro das experiências humanas compartilhadas. Embora a humanidade continue a enfrentar novos desafios e conflitos, a arte permanece como um reflexo poderoso de nossas alegrias e tristezas. O filme de Newell captura esse espírito, oferecendo uma visão tocante e sincera sobre a capacidade de encontrar beleza e propósito mesmo nos tempos mais difíceis.
Filme: A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata
Direção: Mike Newell
Ano: 2018
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 9/10