Após lotar cinemas pelo mundo, o melhor filme da franquia Jogos Vorazes estreia no Prime Video Murray Close / Lionsgate

Após lotar cinemas pelo mundo, o melhor filme da franquia Jogos Vorazes estreia no Prime Video

Prequelas são um capítulo à parte na história do cinema. Desde que inventaram o expediente de se desenvolver o prólogo de uma história que caminha com as próprias pernas há algum tempo, uma enxurrada de filmes dessa natureza passou a fazer parte do cotidiano de plateias mundo afora, nem sempre com sucesso. 

“Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” é um arquétipo de caso exitoso no que se refere ao dispensável movimento de, violentando o relógio, chegar-se a algumas explicações — plausíveis ou nem tanto — sobre a índole deste ou daquele personagem, o que exige um verdadeiro halterofilismo mental quanto a se comparar uma e outra produção. 

Francis Lawrence volta mais de sessenta anos para aprofundar-se nos meandros da personalidade tirânica de Coriolanus Snow, o futuro líder de Panem, um estado soberano que sai de uma ditadura totalitária para a condição de república constitucional democrática sem que se livre de certos vícios do passado, a exemplo dos Jogos Vorazes do título, competição durante a qual um rapaz e uma garota de distritos diferentes lutam até a morte num picadeiro, como faziam os gladiadores da Roma antiga. 

O quinto desdobramento da série, iniciada em 2012 com “Jogos Vorazes”, de Gary Ross, chega pelas mãos dos quatro estúdios que produziram e distribuíram os longas anteriores, Lionsgate à frente, e o roteiro de Michael Arndt e Michael Lesslie conserva a aura quimérica e apocalíptica da pena de Suzanne Collins, girando em torno de aspectos quase entre sibilinos e óbvios dos dois tributos do Distrito 12 que dominam a narrativa, especialmente em “Jogos Vorazes: A Esperança — O Final” (2015), também de Lawrence.

De quando em quando, tudo o que a velha musa canta tem de cessar; nessa hora, passamos a nutrir novos anseios, a nos queixar de outras carências e a roda viva das humanas misérias se perpetua como o esperado. Panem, administrado por um tal Capitólio (qualquer semelhança com a realidade, definitivamente, não é mera coincidência) e arranjado nos tais doze distritos. A grande vantagem de “A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” é que ninguém precisa ter acompanhado os outros episódios da série para ter uma noção bastante razoável do que Lawrence pretende. 

O diretor vai dotando seu filme de elementos que conduzem a inferências políticas cujo significado varia ao longo das mais de duas horas e meia, um tempo de projeção excessivamente longo a despeito da unidade da trama. Snow é um jovem forte e bonito, cuja única perspectiva de escapar da miséria é alistar-se nas tropas coordenadas de longe por Volumnia Gaul, a cabeça por trás da complexa engenharia dos Jogos Vorazes.

A décima edição do torneio é disputada pelo personagem de Tom Blyth, lembrando muito o já saudoso Donald Sutherland (1935-2024), e Lucy Gray Baird, uma Katniss um pouco mais suave na interpretação atenta de Rachel Zegler. Blyth e Zegler fazem o que se espera deles e levam quem assiste por um passeio demorado pelos labirintos de uma terra distópica — ela mais que ele, diga-se. E mais uma vez, muita coisa fica por ser esclarecida, talvez em “Jogos Vorazes: Nascer do Sol na Colheita”, previsto para 2026.


Filme: Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes
Direção: Francis Lawrence
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Aventura
Nota: 8/10