Nenhum outro filme da Netflix é tão emocionante: a mais bela e triste história de amor do cinema Divulgação / The Weinstein Company

Nenhum outro filme da Netflix é tão emocionante: a mais bela e triste história de amor do cinema

O casamento pode ser comparado a uma loteria, onde o amor genuíno entre um homem e uma mulher não garante necessariamente um relacionamento feliz e estável. O sentimento, muitas vezes romântico e apaixonado no início, precisa de tempo e maturidade para se transformar em algo duradouro e sereno. Porém, com o tempo, esse mesmo amor pode se transformar na raiz dos problemas do casal, especialmente quando a essência do sentimento é mal compreendida.

Em “Blue Valentine”, dirigido por Derek Cianfrance, vemos uma exploração profunda das neuroses que podem afetar a vida a dois. Através da história de Dean e Cindy Hellers, o filme explora questões de amor, imaturidade e a precipitação de celebrar uma descoberta maior que a própria vida. A narrativa sugere que, embora o amor estivesse presente, a falta de maturidade e a pressa em oficializar o relacionamento contribuíram para o seu colapso.

Os personagens, interpretados por Ryan Gosling e Michelle Williams, enfrentam a chamada crise dos sete anos, um conceito popular que sugere que casais enfrentam grandes desafios após sete anos de união. No entanto, esse postulado carece de comprovação científica e pode variar de casal para casal. A ideia de que todos os casamentos sofrem crises após sete anos é uma convenção estatística, ligada ao mito e à mística do número sete, sem uma base sólida na realidade de todos os relacionamentos.

Machado de Assis, ao discutir as complexidades do coração, afirmou que Deus criou a fé e o amor, enquanto o diabo confundiu fé com religião e amor com casamento. Essa perspectiva sugere que o amor verdadeiro não depende de rituais ou testemunhas, mas de uma conexão profunda entre duas almas. No caso de Dean e Cindy, a vida trouxe desafios imprevistos, que transformaram seu amor em algo diferente do sonho inicial.

Um dos maiores desafios para a longevidade de um casamento é a crença de que a vida conjugal permanecerá como no momento mágico em que duas almas se encontram. No entanto, a realidade do casamento inclui a divisão de responsabilidades, dificuldades financeiras e, muitas vezes, a chegada precoce dos filhos. Dean e Cindy enfrentam essas realidades rapidamente com o nascimento de sua filha Frankie, criando um vínculo que vai além do amor romântico.

A performance de Ryan Gosling e Michelle Williams em “Blue Valentine” é magistral, capturando a transformação de seus personagens ao longo do tempo. Gosling, que também é conhecido por seus papéis em “Drive” e “Blade Runner 2049”, demonstra sua versatilidade ao retratar Dean, um personagem complexo e melancólico. Michelle Williams, por sua vez, revela a deterioração emocional de Cindy com uma atuação que lembra seu trabalho em “Manchester à Beira-Mar” e “O Segredo de Brokeback Mountain”.

Derek Cianfrance opta por evitar os clichês comuns dos dramas amorosos, como doenças, acidentes ou a morte de um filho, focando-se nas razões mais sutis e cotidianas que podem corroer um relacionamento. “Blue Valentine” é uma obra que explora a transformação do amor romântico em algo mais maduro e, por vezes, doloroso, refletindo a realidade de muitos casais que enfrentam as adversidades da vida a dois.


Filme: Blue Valentine
Direção: Derek Cianfrance
Ano: 2011
Gênero: Romance/Drama
Nota: 9/10