O filme francês mais assistido na história da Netflix Nicolas Auproux / Netflix

O filme francês mais assistido na história da Netflix

Conforme “Agente Infiltrado” avança, torna-se cada vez mais claro que o espectador pode antecipar o desfecho do filme dirigido por Morgan S. Dalibert. A extensa trajetória do diretor em tramas que combinam ação, suspense e uma polícia que oscila entre a corrupção e a boa intenção, mas que se perde em meio a inúmeras necessidades insatisfeitas e enfrenta facções criminosas cada vez mais organizadas, resultou em sequências que mantêm o público em uma constante expectativa, a qual só diminui quando o número de corpos no chão ultrapassa qualquer possibilidade de novas reviravoltas. Esse é, porém, o desafio de produções como “Agente Infiltrado”, que sofrem com abordagens superficiais e pretensiosas sobre temas sérios, culminando em uma mudança abrupta na reta final.

A abertura do filme, sem dúvida, é o ponto mais marcante. Cruzando uma paisagem desolada, uma velha caminhonete transporta homens armados por uma estrada deserta; de repente, o veículo para, e eles descem, arrastando consigo uma pessoa encapuzada até uma caverna. Parece ser um sequestro, inferência quase correta que Dalibert constrói habilmente, e se antes a cinematografia de Florent Astolfi destacava a luz pálida que pintava o cenário com tons pastéis no areal implacável, na vegetação esparsa e no céu límpido, dentro da caverna a escuridão transforma a cena em um bloco indistinto onde pouco se define claramente. O misterioso indivíduo consegue se desvencilhar do capuz, revelando-se Adam Franco, o anti-herói interpretado por Alban Lenoir, que está ansioso para acertar contas do passado em uma missão suicida. É nesse ponto que os problemas do roteiro, escrito por Dalibert e pelo próprio Lenoir, se tornam evidentes.

É difícil definir o objetivo de Adam, tamanha a confusão, talvez intencional, que permeia esse núcleo. Nota-se a intenção do diretor de adicionar à trama o máximo de ocorrências possível, para que a natureza distópica do filme não seja questionada. Contudo, ao descobrir a identidade do refém que foi libertar — e com quem se misturou no cativeiro —, o personagem de Lenoir adquire um ar redentor que soa falso, possivelmente por ser abrupto demais. Aproximando-se do terceiro ato, quando uma dupla de muçulmanos negros do Sudão do Sul implora pela clemência do justiceiro, “Agente Infiltrado” perde uma grande oportunidade de poupar a audiência de constrangimentos desnecessários, embora o restante da obra tenha algum mérito sob a ótica do entretenimento.


Filme: Agente Infiltrado
Direção: Morgan S. Dalibert
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Suspense/Policial
Nota: 7/10