Mal recebido pela crítica, novo filme de Jessica Alba é a grande aposta de audiência da Netflix para o primeiro semestre Ursula Coyote / Netflix

Mal recebido pela crítica, novo filme de Jessica Alba é a grande aposta de audiência da Netflix para o primeiro semestre

A história do homem é a história de suas guerras. Queira-se ou não, foi por meio de combates armados que conquistamos o que temos. Declarar guerra contra quem quer que seja nunca é uma resolução que se toma da mão para a boca, mas é, em muitas circunstâncias, a única coisa a se fazer para fugir da desonra, que, conforme ensina Winston Churchill (1874-1965), primeiro-ministro do Reino Unido quando da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), se encarniça de um povo que não encampa as causas pelas quais se deve combater. Por mais perverso que soe, temos que admitir: a guerra fascina muita gente, e esse é o problema.

A guerra é o oxigênio de indivíduos como Parker, a anti-heroína de “Alerta de Risco”, viciada em adrenalina, certa de que só pode viver em meio a confusões de toda sorte. Jessica Alba encarna essa guerreira cheia de traumas, em busca de um porto seguro, até que um baque ainda mais poderoso, no centro de sua intimidade, a colhe sem prévio aviso e ela resolve dar uma guinada brusca em seu caminho. Em seu primeiro trabalho em língua inglesa, a indonésia Mouly Surya extrai uma pletora de sentimentos os mais controversos de sua protagonista, um grande mérito em tomando por análise o roteiro de John Brancato, Josh Olson e Halley Wegryn Gross, cheio de lacunas e cansativas iterações acerca da índole de Parker, que deságuam em sequências em que se tem claro que ela não é nenhum doce de coco. 

“Alerta de Risco” é um caos, e um caos sem método. Uma certa Operação Alice 116 leva a personagem de Alba a refletir, entre um e outro petardo, sobre a vida como uma jornada curta demais e uma possível inutilidade do que tem feito de seu próprio tempo sob o sol, nas areias do deserto sírio. Antes de ter sua missão dada por concluída, sabe da morte do pai, dono de um bar em sua cidade natal, e como não poderia mais ter o sangue frio que seu ofício exige, é dispensada.

Surya menciona um segredo envolvendo o morto e uma mina na qual tinha sociedade, e a partir de então tenta dar ao longa um ar quase filosófico, aprofundando-se em questões como as idas e vindas e os altos e baixos que pontuam o relacionamento de pais e filhos e as situações em que a parte mais velha desaconselha muitas das atitudes que definem e justificam a existência de quem responde pelo lado mais novo — embora aqui se tenha o contrário.

Esse hiato não só de anos como de intenções entre duas pessoas que se querem bem, mas que entendem o mundo de jeitos rigorosamente diversos, mesmo antagônicos, vai apontando para desdobramentos muitas vezes dramáticos de temas que passariam por banais a olhos insensíveis. O problema é que não demora e a diretora torna à pancadaria, em que Alba até se sai bem, emulando o que apresenta em “Assassinos Anônimos” (2019), de Martin Owen, ou na pele da Mulher Invisível em “Quarteto Fantástico” (2005) e “Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado” (2007), ambos dirigidos por Tim Story. Deveria ser suficiente, mas não é.


Filme: Alerta de Risco
Direção: Mouly Surya
Ano: 2024
Gêneros: Ação/Thriller 
Nota: 7/10