Obra-prima do cinema europeu, digna de Oscar, está na Netflix e vai tocar cada cantinho do seu coração Divulgação / Sony Pictures Classics

Obra-prima do cinema europeu, digna de Oscar, está na Netflix e vai tocar cada cantinho do seu coração

Uma característica marcante de regimes autocráticos é a perseguição a artistas e a repressão de qualquer forma de expressão que desafie a ordem estabelecida. “Nunca Deixe de Lembrar”, dirigido por Florian Henckel von Donnersmarck, aborda essa dinâmica ao revisitar aspectos sombrios do nazismo. O cineasta alemão oferece uma perspectiva que tenta lançar luz sobre as motivações de Adolf Hitler, explorando a frustração artística do ditador como um possível fator de seu ódio contra a arte e a cultura.

Hitler, um pintor frustrado, encontrou na rejeição à arte uma forma de expressar seu ressentimento. Em 1937, o Partido Nazista organizou uma exposição em Munique com obras alinhadas à sua ideologia, promovendo ataques a movimentos artísticos modernos e a valores como liberdade de expressão, democracia e integração racial. Essa exibição itinerante percorreria a Alemanha, refletindo a censura e o controle autoritário do regime.

Von Donnersmarck transporta esses eventos para Dresden, onde o jovem Kurt, interpretado inicialmente por Cai Cohrs, visita uma exposição nazista com sua tia Elisabeth. A cena estabelece a tensão entre a arte verdadeira e a propaganda do regime. A tia, interpretada por Saskia Rosendahl, silenciosamente transmite ao sobrinho a verdadeira natureza daquela exposição distorcida.

O filme, inspirado na vida do pintor alemão Gerhard Richter, retrata a jornada de Kurt (Tom Schilling na fase adulta), que enfrenta tanto a opressão nazista quanto a censura comunista. A narrativa abrange quatro décadas, mostrando como Kurt tenta sobreviver e criar em meio a regimes que suprimem a liberdade artística. Mesmo após a Segunda Guerra Mundial, ele se vê submetido a um novo conjunto de restrições, agora imposto pelo realismo socialista.

“Nunca Deixe de Lembrar” é uma obra extensa, que detalha cada conflito sem pressa, lembrando a profundidade de clássicos literários como “Guerra e Paz” e “Anna Kariênina”. O filme segue Kurt desde a infância até a idade adulta, capturando suas lutas e aspirações. Em Berlim, Kurt busca uma formação artística, apesar das restrições do regime comunista, e encontra Elisabeth Seeband (Paula Beer), com quem desenvolve um relacionamento complicado pela interferência do pai dela, um influente ginecologista.

Sebastian Koch interpreta Carl, o pai de Elisabeth, cuja influência e ações complicam ainda mais a vida de Kurt. O filme sugere que a verdadeira arte deve ser livre de qualquer utilitarismo imposto por regimes autoritários. A arte existe como um testemunho da profundidade da experiência humana, algo que Gerhard Richter continua a afirmar através de sua obra.

O filme de Von Donnersmarck é uma exploração instigante da relação entre arte e totalitarismo, ilustrando como os regimes tentam manipular e controlar a expressão criativa para servir a seus interesses. “Nunca Deixe de Lembrar” enfatiza a resiliência do espírito humano e o poder duradouro da arte em desafiar e transcender sistemas opressivos.


Filme: Nunca Deixe de Lembrar
Direção: Florian Henckel von Donnersmarck
Ano: 2018
Gêneros: Drama/Romance
Nota: 9/10