A maior bilheteria da carreira de Brad Pitt está na Netflix Jaap Buitendijk / Paramount Pictures

A maior bilheteria da carreira de Brad Pitt está na Netflix

Uma doença misteriosa se espalha pelo planeta, transformando humanos em zumbis a uma velocidade alarmante, sem dar tempo para qualquer defesa eficaz. É nesse cenário que o governo dos Estados Unidos convoca um ex-agente da ONU, agora um pacato pai de família, para enfrentar a praga e garantir a sobrevivência da humanidade. Inspirado no livro de Max Brooks, “Guerra Mundial Z” segue o princípio de manter tudo complicado, em vez de esclarecer.

Mark Forster, com a colaboração de quatro roteiristas — incluindo Matthew Michael Carnahan, diretor de “Mosul” (2019) —, aborda temas como preservação da natureza, teorias conspiratórias religiosas, tráfico de órgãos na Alemanha, e a irresponsabilidade das companhias aéreas, que permitiram a rápida disseminação de um vírus híbrido letal, combinando meningite, varíola e H1N1. O resultado é um filme que busca entreter mais do que seguir rigorosamente a narrativa científica do livro de Brooks.

Aos poucos, fica evidente que a infestação zumbi é uma metáfora para temas importantes segundo Forster. Com um orçamento de duzentos milhões de dólares, ele enche o prólogo com imagens deslumbrantes do nascer do sol sobre o mar, abelhas em harmonia numa colmeia, pássaros no horizonte, contrastando com a rotina frenética dos nova-iorquinos.

A maré vira quando um noticiário menciona um encalhe de cetáceos na Costa Oeste, um sinal para o público esperar pela tragédia que se aproxima. Após um tour pela casa dos Lane, guiado por Gerry (Brad Pitt), a paz familiar é interrompida. Gerry, que deixou sua carreira na ONU para cuidar da família, é forçado a voltar ao combate contra inimigos inesperados quando um policial arranca o retrovisor de seu carro na Quinta Avenida. Em seguida, a ação se intensifica com ataques de zumbis em Nova York e Israel.

Há quem veja “Guerra Mundial Z” como uma crítica indireta ao governo de George W. Bush, mas, na verdade, os perigos maiores não são os políticos inexpressivos, mas sim ameaças globais imprevistas, como a pandemia de covid-19 demonstrou. Assim, enquanto temos remédios contra demagogos, os desafios apresentados por mutantes invisíveis são de outra ordem.

No enredo, Gerry é chamado para investigar a origem do surto e encontrar uma solução para impedir a extinção da raça humana. A narrativa avança rapidamente, mostrando Gerry enfrentando perigos em diversas partes do mundo, desde a Coreia do Sul até Israel, onde uma das sequências mais icônicas do filme ocorre: uma enorme horda de zumbis escalando as muralhas de Jerusalém. Essa cena ilustra o desespero e a falta de controle diante da ameaça zumbi.

Em paralelo à ação intensa, o filme aborda a luta interna de Gerry, que tenta proteger sua família enquanto enfrenta os horrores da infestação. A relação entre Gerry e sua esposa Karin (Mireille Enos) é uma âncora emocional no caos, mostrando a tensão entre dever e afeto familiar.

“Guerra Mundial Z” também levanta questões sobre a resposta global a pandemias e desastres. A ineficácia inicial dos governos e organizações internacionais é um tema recorrente, refletindo críticas à gestão de crises reais. O filme não se aprofunda nas explicações científicas sobre a doença, mas foca na experiência humana e nas decisões difíceis em tempos de crise.

A cinematografia de “Guerra Mundial Z” é um ponto alto, com cenas de ação bem coreografadas e efeitos especiais impressionantes que contribuem para a sensação de urgência e perigo. A trilha sonora complementa o ritmo frenético do filme, amplificando a tensão nas cenas mais críticas.

“Guerra Mundial Z” entrega uma mistura de ação e reflexão sobre a fragilidade da civilização frente a ameaças desconhecidas. Embora algumas críticas apontem para a superficialidade em relação ao material original de Max Brooks, o filme consegue capturar a essência do horror e da luta pela sobrevivência em um mundo abalado por uma praga apocalíptica.

“Guerra Mundial Z”, na Netflix, é um thriller que combina entretenimento com uma mensagem subjacente sobre a preparação e resposta a crises globais, relevando temas contemporâneos e universais. A atuação de Brad Pitt como Gerry Lane é um destaque, trazendo gravidade e empatia a um personagem que deve equilibrar a responsabilidade global com a proteção de sua própria família.


Filme: Guerra Mundial Z
Direção: Marc Forster
Ano: 2013
Gêneros: Terror/Ação
Nota: 8/10