Apesar de ter bombado nas redes sociais, a enquete da Revista Bula para que os leitores elegessem as dez melhores canções do Elvis em todos os tempos não ficou nada surpreendente, mas, como diz o velho ditado “A voz do povo é a voz de Elvis”. Surpreendente mesmo foi encontrar-me com o próprio, em carne e osso (mais osso do que carne, é verdade), no topo dos seus 81 anos, tomando sorvete Freddo numa pracinha em frente ao cemitério da Recoleta. Mengele, Hitler, Elvis… Não sei o que esses mortos-vivos viram na Argentina para quererem se refugiar por lá. Será que Michael Jackson também veio?
O fato é que eu, Esteban (Esteban é a alcunha de Elvis Aaron Presley) e uma turba de turistas assistíamos à performance de mais um artista de rua que imitava o Rei do Rock na sua fase mais madura (que baita coincidência!). O dublê estava bem estilizado, trajava aquela clássico extravagante manto branco cravejado com lantejoulas, cultivava costeletas respeitáveis no rosto e rebolava mais do que a classe média brasileira pra tentar fugir da crise econômica.
Quase tive uma crise! Quase tive um troço! Ali estava eu, enfim, frente a frente com “A Pelve”, que gentilmente requebrara (apesar da avançada artrose de quadril) e concordara em me receber num logradouro público da capital portenha, a fim de conceder entrevista inédita, exclusiva para a Revista Bula. Não me perguntem como logramos esse furo, esse prodígio, essa façanha, como fomos capazes de, não apenas comprovar a sobrevida de Elvis no planeta, como também, localizá-lo na belíssima Buenos Aires. Exagero? Conversa pra boi dormir? Loucura? Elvis está morto? Ora, Elvis não morreu. Ele ressuscitou ao terceiro dia e está sentado à direita de deus-pai-todo-poderoso, chupando sorvete, num banco de praça do charmoso bairro da Recoleta. Leiam na íntegra a entrevista do Elvis e confiram quais foram as “Top Ten” escolhidas pelos leitores da Bula.
A entrevista
Bula — Nem sei por onde começar. Ousaria chamá-lo Elvis, Señor Esteban? É uma honra para a Revista Bula entrevistá-lo, após tantos anos pesquisando, pelejando, crendo, devaneando, caçando, futricando sebos em busca do seu paradeiro aqui na Argentina. Ah… os argentinos… não sei como você suporta os argentinos…
Elvis — You ain’t nothin’ but a hound dog. It’s now or never. (risos)
Bula — Esse sorvete de baunilha do Freddo é mesmo um escândalo não, King? Que delícia! Qual sabor você pegou?
Elvis — Tutti frutti. Come on… A litlle less conversation, please.
Bula — Ok. Vamos em frente. Muitos duvidam que Elvis esteja vivo, lúcido e residindo incógnito nalgum recôndito esconderijo na América Latina.
Elvis — We can’t build our dreams on suspicious minds.
Bula — Concordo com você, Elvis. Como é o nome da sua atual companheira?
Elvis — Sylvia. There’s nothing like a word of love from Sylvia. Can’t help falling in love. I get a fever.
Bula — Onde vocês se conheceram, meu ídolo?
Elvis — At the Heartbreak Hotel, behind the Jailhouse Rock, near the Bridge of Troubled Water.
Bula — Por que forjar a própria morte, enterrar em Memphis um boneco de cera com dois metros de altura, para recomeçar vida nova num país longínquo da América do Sul? Por que Elvis desistiu de ser Elvis?
Elvis — Regrets, I’ve had a few, but then again, too few to mention. My friend, I’ll say it clear: much more than this, I did it my way.
Bula — Eu sei que temos um dos piores IDH do planeta, que a violência urbana mata tanto ou mais que a guerra civil na Síria, que a corrupção é praticamente inata aos brasileiros, que a nossa reputação enquanto país decente é deplorável, mas, apesar de todos esses ingredientes, Esteban De La Hoya aceitaria um convite nosso para viajar incógnito pelo Brasil?
Elvis — Fool, fool, fool! Don’t be cruel. (risos)
Bula — Para terminar, Elvis, deixa uma mensagem para os seus fãs, especialmente para os leitores da Revista Bula.
Elvis — Are you lonesome tonight? Surrender. Love me tender, love me sweet. You are always on my mind. I’m stuck on you.