Retorno triunfal de Mel Gibson aos cinemas em thriller de ação de tirar o fôlego, na Netflix Divulgação / SND Films

Retorno triunfal de Mel Gibson aos cinemas em thriller de ação de tirar o fôlego, na Netflix

O mundo pode se transformar em inúmeras maneiras, mas há uma constante: filhos sempre representarão desafios para seus pais, independentemente da idade. “Herança de Sangue” mergulha nesse tema, revisitando muitos dos clichês comuns em histórias sobre relações tumultuadas entre pais e filhos, especialmente aqueles que carregam o peso de um passado conturbado e repleto de momentos difíceis.

O diretor francês Jean-François Richet explora a complexidade moral de seus personagens principais, um pai e uma filha que, repentinamente, se veem envolvidos em um cenário de violência e crime, algo que parece inevitável na vida de pessoas com histórias tão problemáticas. Com um roteiro adaptado por Andrea Berloff e Peter Craig, baseado no romance de Craig, Richet desenha um panorama dos conflitos que cercam esses dois desafortunados, alternando o foco entre ambos e proporcionando diálogos carregados de críticas políticas, humor e reflexões profundas.

À medida que os filhos são mais inexperientes e vulneráveis, a preocupação dos pais tende a aumentar, como gêiseres que irrompem em explosões periódicas de angústia fervente, afetando todos ao redor. Nada na vida parece imune à piora, e a experiência dos pais pouco adianta.

Apesar de suas recomendações, inspiradas por experiências pessoais amargas, os filhos parecem irresistivelmente atraídos pelas tentações da juventude, cometendo seus próprios erros e enfrentando as consequências. Pais tentam estar sempre presentes, prontos para compartilhar a dor, mesmo sabendo que não podem proteger seus filhos de todas as adversidades, pois o amor paternal não conhece limites e se esforça para se tornar um escudo contra os golpes implacáveis do destino.

O filme começa com cartazes de uma garota desaparecida, reminiscente dos velhos faroestes. Em seguida, vemos Lydia, a garota em questão, comprando munição e chiclete, mas sendo impedida de adquirir um maço de cigarros por ser menor de idade. Essa crítica ao estilo de vida americano é apenas uma das várias inseridas ao longo dos 88 minutos intensos do filme, revelando a angústia subjacente dos protagonistas.

Lydia, interpretada por Erin Moriarty, é uma delinquente juvenil que, mesmo impedida de comprar cigarros, pode adquirir munição. Ela paga com um maço de notas amassadas e se junta a três homens no carro, incluindo seu namorado Jonah, vivido por Diego Luna. Eles se dirigem a um assentamento no sul da Califórnia, onde os moradores, sob aparência pacífica, estão envolvidos no narcotráfico mexicano. Lydia foi atraída para essa vida por Jonah, acreditando em promessas de prosperidade sem trabalho pesado, após desentendimentos com sua mãe.

Após uma grande virada na trama, quando Lydia hesita em seguir uma ordem de Jonah, a situação desmorona, levando ao anticlímax do filme. Nesse ponto, entra em cena o personagem de Mel Gibson, John Link, um ex-presidiário em liberdade condicional que vive em um trailer e trabalha como tatuador. Lydia, em um momento de desespero, recorre ao pai, forçando-o a abandonar suas conquistas — incluindo a sobriedade conquistada após anos de vício, algo com o qual Gibson pessoalmente se relaciona. John Link embarca com a filha em uma jornada de caos e criminalidade.

“Herança de Sangue”, na Netflix, tem uma vibrante química entre Moriarty, Gibson e Richet. Os diálogos são afiados, com discussões sobre imigração, racismo e a irresponsabilidade dos agentes financeiros, enriquecendo a narrativa. Fugindo de situações perigosas e amigos falsos, como o neonazista vivido por Michael Parks, o foco de John Link passa a ser a salvação de sua filha de um destino miserável como o seu. Ele busca redenção e paz, mesmo sabendo que os poderes de um pai têm seus limites.

O filme entrega uma visão crua e realista da paternidade e dos desafios inerentes a ela. Richet, Berloff e Craig criam uma história que, embora não fuja dos clichês, trata com honestidade as dificuldades e sacrifícios dos pais para protegerem seus filhos. Com atuações convincentes e um roteiro sólido, “Herança de Sangue” oferece uma reflexão sobre o amor paterno, a busca por redenção e os limites impostos pelo destino, capturando a essência das complexas relações familiares.


Filme: Herança de Sangue
Direção: Jean-François Richet
Ano: 2016
Gêneros: Ação/Drama/Suspense
Nota: 9/10