Filme da Netflix baseado na maior história de amor da literatura do século 20 Massimo Calabria Matarweh / Netflix

Filme da Netflix baseado na maior história de amor da literatura do século 20

O amor representa o auge do refinamento que alguém pode alcançar na vida; é impensável que alguém complete sua jornada na Terra sem ter amado, seja de forma carnal ou platônica. O amor, ou mesmo a ilusão do amor, é vital para a existência humana, e até nas loucuras dos amores não consumados há uma sanidade oculta, presente na alma daqueles que ousaram se perder no mais belo dos sonhos.

Somente quando os parceiros compreendem, muitas vezes após inúmeras batalhas internas, que estão juntos para descobrir o que os impulsiona a continuar sua história comum, e não para ceder a fantasias ingênuas de amor eterno e paixões que desafiam a lógica e a biologia, é que o amor pode verdadeiramente florescer.

Uma mulher bonita, elegante e rica, em uma sociedade conservadora da Inglaterra pós-Primeira Guerra Mundial, se deixa seduzir não apenas pelo jardineiro doce e leitor de James Joyce que trabalha para seu marido, mas por tudo que aquele homem simples representava para ela, aprisionada em um casamento infeliz, embora sem culpa de ninguém. A cineasta francesa Laure de Clermont-Tonnerre adapta a obra do britânico D. H. Lawrence, trazendo para a tela um dos romances mais provocantes da literatura universal.

“O Amante de Lady Chatterley”, na Netflix, não é apenas uma história de amor; é também um estudo sobre o poder do ódio, que se alimenta silenciosamente do amor, sufocando tudo ao seu redor. A personagem de Lady Chatterley aparece mais frequentemente que seu amante furtivo, o que indica a mensagem de Lawrence sobre a igualdade de gênero. Constance Reid, uma mulher à frente de seu tempo, é retratada como uma figura esbelta e pálida, que já tinha experiências amorosas antes de conhecer e se apaixonar pelo baronete Clifford Chatterley. O roteiro de David Magee omite algumas dessas experiências, mas a personalidade proativa de Constance sugere que ela tomou a iniciativa no relacionamento.

Nesta adaptação, a sexta desde a versão de Marc Allégret em 1955, Emma Corrin interpreta uma Lady Chatterley quase pornográfica para os padrões de sua época, mas fiel à narrativa de Lawrence. O autor deixa para o público a tarefa de julgar Constance e Clifford, um homem fraco que se isola na sombria herdade de Wragby após voltar da guerra paralisado. Clermont-Tonnerre explora essa pulsão de morte, ajustando-a à personalidade inquieta de Lady Chatterley, que encontra no encontro com Mellors, o guarda-caça, uma sacudida que muda sua vida.

Oliver Mellors entra na história como um estranho em um ninho, e Connie se recusa a aceitar o que o destino lhe reserva, frequentando cada vez mais o chalé de Mellors. Jack O ʼConnell rivaliza com Corrin pelo posto de personagem central, aproveitando todas as oportunidades que a diretora lhe dá para brilhar. Mellors, apesar de sua humildade, tem um apetite literário voraz, o que encanta Constance. Sua bibliofilia, no entanto, desencadeia sua queda, quando Ned, o novo companheiro de sua ex-mulher, encontra um livro de Virginia Woolf com o nome de Constance.

O desfecho, entre melancólico e esperançoso, mostra duas almas castigadas pela emoção humana e pela maledicência alheia. Lady Chatterley se exila em Veneza com sua irmã, enquanto Mellors recomeça em um vilarejo escocês. A fotografia de Benoît Delhomme ajuda a atenuar a tristeza da história, especialmente nas cenas bucólicas dos amantes na relva ou tomando banho de chuva. A felicidade, muitas vezes, é apenas isso: um amor confuso, após inúmeras revoluções contra um inimigo adorável.


Filme: O Amante de Lady Chatterley
Direção: Laure de Clermont-Tonnerre
Ano: 2022
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 9/10