Drama de guerra mais doloroso e brutal da história do cinema, que levou 4 Oscars e foi indicado a 84 prêmios, na Netflix Reiner Bajo / Netflix

Drama de guerra mais doloroso e brutal da história do cinema, que levou 4 Oscars e foi indicado a 84 prêmios, na Netflix

Conforme a Organização das Nações Unidas (ONU), estabelecida logo após o término da Segunda Guerra Mundial em 1945 com o objetivo de intermediar conflitos armados e facilitar negociações de paz, há atualmente trinta zonas de guerra espalhadas pelo mundo. Essas disputas, em sua maioria, são desencadeadas por rivalidades territoriais, tensões religiosas, tentativas de dominação étnica ou pelo controle de recursos naturais.

A política também desempenha um papel crucial, exacerbando divergências quanto à interpretação de constituições nacionais. Movimentos separatistas no Canadá, na Catalunha e na Irlanda do Norte continuam a provocar violência e instabilidade econômica. Apesar dos esforços da ONU, a tarefa de manter a paz global é monumental. A guerra, muitas vezes, é vista como o último recurso, mas sempre vem acompanhada de um alto custo.

Em “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade”, publicado em 2011, o historiador israelense Yuval Noah Harari argumenta que a ascensão do homo sapiens na escala evolutiva deve-se à nossa capacidade única de compartilhar informações sobre diversos aspectos cotidianos, como os melhores locais para caçar ou quais alimentos são seguros. Esse compartilhamento de conhecimento, impossível para outros animais, foi fundamental para nossa evolução, mas também veio acompanhado do desenvolvimento da força bruta.

Inicialmente, o homem domesticou animais considerados mansos, colocando-os a seu serviço. Para enfrentar feras maiores e mais perigosas, criamos ferramentas como machados, lanças e fundas, expandindo nossos territórios. O domínio do fogo e a invenção da pólvora marcaram a evolução da guerra, tornando-se um meio pelo qual a humanidade obteve grande parte de suas conquistas. A decisão de ir à guerra é sempre difícil, mas frequentemente considerada necessária para evitar a desonra, como afirmou Winston Churchill, primeiro-ministro britânico durante a Segunda Guerra Mundial. A guerra, infelizmente, exerce uma fascinação perigosa, tornando-se um vício para a humanidade, que muitas vezes prefere a força bruta à diplomacia.

Filmes sobre a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) são comuns, mas tendem a ser esquecidos, relegados a um passado distante. No entanto, a erraticidade do comportamento humano traz esses temas à tona periodicamente, refletindo a necessidade de ponderar sobre o futuro das nações neste tumultuado século 21, marcado por extremos e violência. “Nada de Novo no Front” (2022) é uma nova adaptação do romance homônimo de Erich Maria Remarque, escrito em 1929.

O filme, dirigido por Edward Berger, revive a história de um jovem soldado forçado a amadurecer rapidamente em meio à brutalidade da guerra. Remarque escreveu seu livro como um protesto contra a opressão, baseado em suas próprias experiências traumáticas nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Ele deixou a Universidade de Münster aos 18 anos para se alistar no exército alemão, onde foi gravemente ferido três vezes, mas sobreviveu.

A capacidade do cinema de incorporar rapidamente avanços tecnológicos é notável. Isso ficou evidente em 1930, quando Lewis Milestone lançou a primeira adaptação cinematográfica do livro de Remarque, destacando-se pela inovação do som no cinema. A versão de 1979, dirigida por Delbert Mann, não alcançou o mesmo impacto. Na adaptação de 2022, o que impressiona são as imagens.

O roteiro de Berger, Lesley Paterson e Ian Stokell apresenta uma visão clara do enredo. A abertura, com cenas de um bosque próximo ao front oeste, é deslumbrante, com uma fotografia meticulosa de James Friend. Logo depois, Berger nos lança na violência da guerra, introduzindo o protagonista, Paul Bäumer, interpretado por Felix Kammerer, em meio a um tiroteio intenso. Kammerer captura a essência do personagem do livro, transmitindo seu desespero e alienação.

Esta produção é uma demonstração poderosa de jovens desesperados tentando sobreviver em um ambiente extremamente hostil, refletindo fielmente a mensagem de Remarque. O filme, que está na Netflix e que levou 4 Oscars em 2023 e disputou a 9 categorias, é uma representação sombria e emocionalmente impactante da guerra, destacando a capacidade do cinema de recontar histórias antigas com uma nova profundidade.


Filme: Nada de Novo no Front
Direção: Edward Berger
Ano: 2022
Gêneros: Guerra/Drama/Ação
Nota: 9/10