O melhor filme de Zack Snyder está na Netflix Divulgação / Universal Studios

O melhor filme de Zack Snyder está na Netflix

São numerosos os registros de criaturas sobrenaturais que deixam seus túmulos quando ninguém vê e zanzam pelas cidades como se ainda estivessem vivas. Os zumbis habitam a literatura fantástica desde pelo menos a Idade Média (476-1453), quando também se popularizaram relatos sobre bruxas e vampiros. Há quem diga que rituais de feitiço praticados em países da América Central, como o Haiti, seriam capazes de fazer os mortos voltarem à vida, e existe quem defenda que essa conversa toda é mero delírio ou, pior, grosso preconceito. 

São legítimas todas as reprimendas à indústria cultural e sua vocação implacável quanto a fazer tábula rasa de tradições as mais diversas, sobretudo as sem nenhuma base histórica mais firme e, o principal, de terras assoladas por pobreza e obscurantismo, mas há que se reconhecer também que tais ideias só prosperam devido a uma certa curiosidade mórbida do público, fenômeno que Hollywood catalisa como ninguém. Foi assim que os zumbis ganharam o mundo e o cinema, e filmes a exemplo de “Madrugada dos Mortos” são capazes de resistir à avalanche de modismos cinematográficos que vêm e vão desde sempre. 

Em 1978, George Romero (1940-2017) descreveu como poderia ser uma epidemia de cadáveres ambulantes numa cidadezinha do Wisconsin, no norte dos Estados Unidos, e um quarto de século mais tarde, essa narrativa ganha fôlego renovado pelas mãos de Zack Snyder, a partir do roteiro de James Gunn, sensível aos anseios de um público fiel.

Talvez a grande diferença entre os trabalhos de Romero e Snyder seja o modo desabotoado como o primeiro conduz seu longa, abusando do humor, do deboche e do cinismo, três modalidades de comédia que domina invejavelmente. No texto de Gunn é tudo meio árido demais, a começar por CJ, o segurança com ares de vilão interpretado por Michael Kelly, sempre pronto para ostentar seu revólver e impor a ordem que considera possível. 

A tentativa de Snyder quanto a fazer do seu “Madrugada dos Mortos” uma alegoria utópica, na qual seres humanos são reféns de monstros que até pouco tempo também estavam do lado de cá, logo perde vigor exatamente por isso: qualquer um pode ser arrancado do que resta-lhe de serenidade e ser a fera da vez. 

Na primeira sequência, Ana, a cirurgiã geral interpretada por Sarah Polley, encerra seu turno e vai para casa, onde se encontra com o marido, Michael, de Jake Weber, mas antes cumprimenta uma garota sua vizinha, que andava de patins pela rua. É justamente essa menina que espalha o vírus que transforma meio Wisconsin nos seres diabólicos (e um tanto apáticos) que obrigam os sobreviventes a se unirem numa força-tarefa comandada por Kenneth, o policial grandalhão e doce encarnado, como não poderia ser de outra maneira, por Ving Rhames. É ele quem coordena a ofensiva aos zumbis, do terraço de um shopping, essa, sim, uma imagem que merece ênfase na balbúrdia em que o filme teima em permanecer, sem muita surpresa. Hollywood sendo Hollywood.


Filme: Madrugada dos Mortos
Direção: Zack Snyder 
Ano: 2004
Gêneros: Terror/Ação 
Nota: 7/10