O filme absolutamente adorável na Netflix que fará você se sentir leve e feliz depois de assisti-lo Divulgação / A24

O filme absolutamente adorável na Netflix que fará você se sentir leve e feliz depois de assisti-lo

Um Ford Galaxy creme em chamas marca a primeira cena de “Mulheres do Século 20”, evocando memórias de tempos mais felizes ou, ao menos, menos incertos. No terceiro longa-metragem de Mike Mills, somos conduzidos pela rotina de uma mãe e seu filho único, ambos lidando com a ausência de um pai e marido, enquanto a vida, como é de seu feitio, lhes reserva novas surpresas.

O ousado diretor e roteirista demonstrou um meticuloso estudo de seus personagens, criando diálogos que se ajustam perfeitamente a cada um deles, oferecendo um texto fluido que faz parecer que essas pessoas realmente existiram ou ainda existem em algum canto do cosmos, esperando para retornar à cena. Essa identificação é fortalecida pela singularidade dos conflitos apresentados.

Dorothea Fields personifica a geração da Depressão. Nascida durante a longa crise econômica que se iniciou com o colapso da Bolsa de Valores de Nova York em 29 de outubro de 1929, e que só terminou em 1941, ela carrega a marca da desesperança e do medo daqueles tempos, agravada pelo desafio de ser mãe solo de um adolescente. Aos 55 anos e fumante inveterada, Dorothea luta para criar seu filho Jamie, de quinze anos, e ambos são vistos quase como aberrações na pequena Santa Bárbara, no sudoeste da Califórnia, no início dos anos 1980.

Annette Bening, em uma de suas melhores performances, encarna essa figura angustiada, que estreita os olhos diante de interlocutores incisivos, sondando intenções ocultas nas entrelinhas de preconceitos que conhece bem. Ela organiza jantares para os poucos amigos, convidando também aqueles em quem confia, como os bombeiros que ajudaram a conter o incêndio no Galaxy. Ela aluga quartos para Abbie, uma fotógrafa punk em recuperação de câncer na medula, e William, um faz-tudo hippie que parece interessado nela. Greta Gerwig e Billy Crudup intensificam a sensação de estranheza que permeia aquela casa, especialmente quando Julie, amiga de infância de Jamie, começa a dormir no quarto do garoto, fugindo de seus próprios problemas familiares.

Em “Toda Forma de Amor” (2011), a história de um homem de 75 anos que se assume homossexual — com a atuação magistral de Christopher Plummer (1929-2021), que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante —, Mills explorou a relação com seu pai. Em “Mulheres do Século 20”, ele volta seu olhar para a mãe, transcendendo a mera autobiografia.

Lucas Jade Zumann interpreta Jamie, um filho superprotegido que reflete as complexidades de sua relação com o mundo ao seu redor, especialmente com o universo feminino, simbolizado por Julie, vivida por Elle Fanning. Ao longo das duas horas do filme, vemos sua luta para provar ser uma boa pessoa, algo em que todos acreditam, embora o foco esteja nas mulheres — figuras que são, simultaneamente, fortes e vulneráveis, independentes e românticas. Essa é uma verdade que se perpetua através dos séculos: do passado, do presente e do futuro.


Filme: Mulheres do Século 20
Direção: Mike Mills
Ano: 2016
Gênero: Comédia/Drama
Nota: 8/10