Aplaudido de pé no Festival de Toronto: faroeste com Kate Winslet, na Netflix, que você vai querer assistir várias vezes Divulgação / Film Art Media

Aplaudido de pé no Festival de Toronto: faroeste com Kate Winslet, na Netflix, que você vai querer assistir várias vezes

Myrtle Dunnage retorna a Dungatar como uma figura quase espectral. Tilly, como prefere ser chamada, volta à cidade natal após cerca de trinta anos carregando um baú de más lembranças. Seu retorno à fictícia cidade australiana, criada por Rosalie Ham, é justificado pela necessidade de cuidar da mãe doente, que não via desde a infância. No entanto, seu verdadeiro objetivo é recuperar um senso de dignidade, independente de seu sucesso como uma renomada costureira. Este é o cerne do filme “A Vingança Está na Moda”, um faroeste estilizado que explora a tragédia íntima de uma mulher que disfarça suas cicatrizes com metros de tecido, costurados com uma inspiração que remete à alta-costura francesa.

Jocelyn Moorhouse traz à vida as aventuras de Tilly, a protagonista do romance “A Modista”, publicado por Ham em 2000. A diretora enxerga em sua anti-heroína uma busca desesperada por afeto, mesclada com uma defesa ferrenha contra tudo e todos. Este sentimento se intensifica quando Tilly decide se estabelecer na terra de onde foi expulsa. O roteiro, coescrito por Moorhouse e seu marido P.J. Hogan, conhecido pela comédia “O Casamento de Muriel” (1994), incorpora um feminismo assertivo sem perder o charme, refletindo o espírito da época e abrindo espaço para reflexões filosóficas sobre o poder terapêutico do amor.

Histórias de vingança feminina têm ganhado destaque na nova produção cinematográfica, como exemplificado em “Bela Vingança” (2020), um thriller com toques de noir que rendeu a Emerald Fennell o Oscar de Melhor Roteiro Original, e “Mademoiselle Vingança” (2018), de Emmanuel Mouret, baseado na obra do iluminista francês Denis Diderot. Em “A Vingança Está na Moda”, Moorhouse e Hogan parecem competir com as excentricidades de Tim Burton e David Lynch, explorando a complexidade da protagonista.

Tilly nunca revela claramente suas intenções em Dungatar, e o público é levado a se encantar pela aparência sofisticada da moça, uma justiceira que esconde sua escuridão interior. Em uma das cenas iniciais, ela chega à casa da mãe, Molly, uma mulher louca e doente, vestindo um traje harmonioso e um chapéu elegante, lembrando Chanel — embora o sargento Farrat, encarregado da ordem na cidade, acredite ser um autêntico Dior.

Hugo Weaving, interpretando o sargento Farrat, encontra-se também desconfortável em sua própria pele, uma característica que a diretora explora com habilidade, elevando seu papel além de um mero coadjuvante excêntrico. A química entre Weaving e Kate Winslet, que interpreta Tilly, rouba a cena repetidamente, ofuscando até mesmo a Mad Molly de Judy Davis, cuja atuação é ao mesmo tempo cômica e patética.

Após ganhar o Oscar de Melhor Atriz por seu papel em “O Leitor” (2008), Kate Winslet apresenta uma personagem menos sinistra, mas ainda perturbadora, suavizada pelos figurinos de Margot Wilson. O desenlace do filme, embora previsível, se desenrola com uma intensidade emocional comparável ao de “Bela Vingança”, especialmente quando o interesse amoroso de Tilly, Teddy McSwiney (interpretado por Liam Hemsworth), entra em cena. Apesar da diferença de idade, a atração entre Tilly e Teddy ilustra a busca por recompensas emocionais em um ambiente hostil.

No fim, “A Vingança Está na Moda” explora o desejo de vingança e a busca pelo amor em um mundo imperfeito, mostrando que, apesar de tudo, o amor ainda desperta ilusões e esperanças nas pessoas, independentemente de suas circunstâncias.


Filme: A Vingança Está na Moda
Direção: Jocelyn Moorhouse
Ano: 2015
Gêneros: Comédia/Faroeste
Nota: 9/10