Previsão para ser feliz: beba mais vinho e coma a sobremesa antes do almoço!

Previsão para ser feliz: beba mais vinho e coma a sobremesa antes do almoço!

Serei feliz todos os dias! Nada irá abalar o meu lado positivo, mesmo que meu saldo entre no negativo. Meu cabelo ficará milagrosamente domado e sedoso. Conseguirei seguir à risca a dieta e fazer exercícios físicos cinco dias por semana. Vou aumentar a minha lista de amigos e encontrar tempo para todos os cafés e chopes com os amigos que eu já tenho. Estarei presente nas reuniões de família, nas bodas, nos aniversários, nos batizados e nos almoços de domingo. Vou trocar o carro 1.0 por um automático, com bancos de couro e teto solar. Quero abrir uma empresa e comprar a minha casa própria à vista. No ano que vem não vou dever ninguém!

Vou beijar o Cauã, acampar em uma praia deserta, pular de asa delta. Farei uma trilha pela cordilheira do Andes. Vou voar de balão na Capadócia. Quero pegar onda no Havaí, esquiar em Aspen e dançar reggaeton com um muchacho latino até o dia amanhecer. Fumarei charutos cubanos de frente para o mar do Caribe — mesmo sem saber fumar! Vou passear nas gôndolas de Veneza, comer uma pizza em Nápoles, comprar um relógio suíço na Suíça. Farei o caminho de Santiago de Compostela para depois correr a São Silvestre. Me sentirei viva de frente para o Mar Morto e gritarei “independência ou morte” às margens do Ipiranga. Vou curtir a festa de Parintins. Vou sambar junto com o povo na quadra da Mangueira, subir o morro e descer até o chão no baile funk, gritar gol no Maracanã lotado.

No ano que vem eu vou ganhar na loteria! Irei até a Islândia só para ver a Aurora Boreal. Prometo admirar todas as 165 superluas do ano, acompanhar todos os eclipses, esperar acordada para ver as chuvas de meteoros e as estrelas cadentes. Vou plantar árvores e colher frutas do pé. Ensinarei às crianças que a vida é dura, mas também é colorida. As crianças me ensinarão a dar valor às coisas que eu esqueci conforme fui crescendo. Aprenderei o mandarim, a tocar violão, a dança do ventre. Vou adotar um cachorro, distribuir comida aos famintos e rosas às mulheres que esperam o trem lotado para voltar para casa. Vou comer a sobremesa antes do almoço sem a menor cerimônia! Beberei mais vinho, certamente. Abrirei todas as gaiolas que vir pela frente e soltar os pássaros cantando “C’est si bon”! Serei ousada o bastante para sair sem maquiagem, sem brincos e sem salto alto. Em vez de correr da chuva, eu vou dançar na chuva com os pés descalços na lama do asfalto. Doarei metade das minhas roupas, metade dos meus sapatos, metade dos meus livros e metade do meu tempo.

Serei feliz sem porquê, vou rir sem motivo, perdoar quem não merece o perdão. Amarei o próximo namorado, o próximo chefe, o próximo vizinho, o próximo a atravessar a rua. Abraçarei por vontade, por consolo, por alegria, por saudade. Beijarei mais, dançarei mais, cantarei as canções do Roberto, mesmo sabendo que não vou conseguir deixar de chorar todas as vezes… Que a gente consiga mudar a vida para melhor sem mexer no que temos de melhor dentro de nós.

Feliz ano novo para as almas velhas!

Karen Curi

é jornalista.