Suspense obrigatório para todos os amantes de literatura está na Netflix Scott Garfield / Netflix

Suspense obrigatório para todos os amantes de literatura está na Netflix

A solidão é um conceito muito mais profundo do que simplesmente desejar estar sozinho. Em várias fases da vida, seja de pessoas famosas ou comuns, surge a necessidade de se afastar do mundo, ainda que brevemente, para realizar atos significativos. É necessário esquecer muitas coisas para se lembrar daquilo que realmente importa; é imperativo mergulhar profundamente em si mesmo para descobrir o caminho a seguir.

Este é o princípio central de “O Pálido Olho Azul”, na Netflix, uma história que transcende o típico suspense. Scott Cooper utiliza elementos técnicos para reviver o interesse por um dos escritores mais ousados já conhecidos, enquanto evita o óbvio e foca nos detalhes que cativam sua audiência, seja visualmente ou através dos diálogos. A fotografia de Masanobu Takayanagi elimina qualquer dúvida sobre as intenções de Cooper, transportando o espectador para o sombrio e belo Vale do Hudson, perto de Nova York, durante o rigoroso inverno de 1830, criando uma atmosfera lúgubre.

Baseado no romance de Louis Bayard, o roteiro de Cooper utiliza o frio como um elemento que obriga seus personagens a atravessarem locais impregnados de uma beleza assustadora. Takayanagi envolve o público em uma atmosfera de pavor, angústia e mistério, enquanto Cooper desenvolve uma narrativa rica e detalhada. Na recém-inaugurada Academia Militar de West Point, o corpo de um cadete chamado Fry é encontrado.

O que inicialmente parece um suicídio logo se transforma em um enigma, dando ao diretor-roteirista a oportunidade de explorar diversas possibilidades ao longo de mais de duas horas. O assassino tem um fetiche perturbador e engenhoso, perpetuado com uma habilidade impressionante. Neste ponto, entram em cena Augustus Landor, interpretado por Christian Bale, um solitário cuja filha foi morar com o namorado, e o jovem Edgar Allan Poe, vivido por Harry Melling, que na trama é um cadete com uma inclinação para a poesia.

A habilidade de Poe com a poesia e sua familiaridade com pessoas excêntricas o tornam essencial para apontar o possível assassino. Com o arco principal do mistério resolvido, Cooper pode então se concentrar nas nuances de seu filme, especialmente na amizade entre Landor e Poe.

A atuação de Melling é ao mesmo tempo comovente e engraçada, mostrando um Poe sutil e complexo que se conecta profundamente com Landor. À medida que o mistério se desenrola, o público ganha uma visão mais profunda da alma torturada de um gênio preso em sua própria mente. A cena com Lea Marquis, interpretada por Lucy Boynton, onde Poe reflete sobre “Lenore”, revela a essência de sua angústia e o significado do título do filme.


Filme: O Pálido Olho Azul
Direção: Scott Cooper
Ano: 2022
Gêneros: Thriller/Mistério
Nota: 9/10