Baseado em best seller de Juan Pablo Villalobos, um dos filmes mais aguardados do ano está na Netflix Divulgação / Netflix

Baseado em best seller de Juan Pablo Villalobos, um dos filmes mais aguardados do ano está na Netflix

Podem sentimentos tão elevados como a relação entre pai e filho emergir de algo tão sombrio quanto o narcotráfico? “Festa no Covil” explora essa pergunta, apresentando a história sob a direção de Manolo Caro, que sublinha a natureza um tanto absurda de um pai criminoso que se esforça para manter o filho numa vida de luxo, protegido das influências criminosas que sustentam essa opulência.

Este filme é uma adaptação do livro homônimo do escritor mexicano Juan Pablo Villalobos, publicado em 2010. Traz elementos do realismo fantástico de Gabriel García Márquez, mas preserva sua própria identidade ao explorar as percepções ilusórias e verdadeiras de um menino inteligente, mas inconsciente dos aspectos sombrios da vida do pai. O garoto vive em um mundo de luxo, sem distinguir claramente entre o genuíno e o ilusório, possivelmente encantado pelo brilho da riqueza ou imerso em um cinismo que o cega para a realidade ao seu redor. O roteiro de Nicolás Giacobone, que ganhou notoriedade com “Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades” (2022), oscila entre essas duas visões, centrando-se em uma narrativa assumidamente excêntrica, reforçando o absurdo da trama.

Um dos grandes desafios da convivência social é revelar um talento ou qualidade única, perceptível apenas para nós mesmos, de uma forma que os outros também a reconheçam, mas sem ostentação. É necessário abordar isso com sutileza, com a calma necessária para convencer os outros de nosso valor, sem parecer que estamos nos esforçando para isso. O homem passa a vida controlando seus impulsos, reprimindo o desejo de se rebelar contra a loucura ao seu redor, encontrando na arte um refúgio que o poupa da necessidade de recorrer à medicina, refinando assim o propósito de melhorar a si mesmo e tornar sua existência mais agradável.

Poucas pessoas possuem a habilidade de iludir com tanta maestria quanto Yolcaut, o gângster interpretado por Manuel García-Rulfo. De fora, ele não parece capaz de amar profundamente outra pessoa, mas faz tudo pelo filho único, Tochtli, que vive cercado de livros e adultos tão corruptos quanto o pai. Miguel Valverde conduz a narrativa para momentos de ternura improvável, especialmente no início. Uma cena em que Tochtli deve escolher um chapéu para se apresentar aos outros à mesa é especialmente comovente, já que o menino está completamente calvo.

Não se sabe se ele está doente ou se recuperando de uma enfermidade grave. No entanto, o enigma dos hipopótamos, outro presente exótico e caro que Tochtli recebe de Yolcaut, mantém o público intrigado até o final, mesmo que Caro às vezes pareça glamourizar o estilo de vida do personagem de García-Rulfo. Este é o aspecto mais desconcertante de “Festa no Covil”.


Filme: Festa no Covil
Direção: Manolo Caro 
Ano: 2024
Gêneros: Drama/Comédia 
Nota: 8/10