Último dia para assistir na Netflix a um dos filmes mais tristes da história do cinema Divulgação / Miramax

Último dia para assistir na Netflix a um dos filmes mais tristes da história do cinema

Quando uma criança perde sua inocência, a humanidade também perde algo significativo. Durante a infância, o mundo se revela um ambiente surpreendentemente hostil, onde cada palavra deve ser cuidadosamente medida e cada gesto, meticulosamente analisado. Nossas frágeis esperanças e sonhos infantis enfrentam a dureza da realidade, que nos obriga a carregar fardos pesados demais para nossos jovens ombros. Desde cedo, percebemos que estamos à mercê de lobos em pele de cordeiro, predadores que nos encurralam com crueldade silenciosa e implacável.

 Esses lobos aguardam qualquer deslize nosso para atacar, dilacerando não apenas nosso corpo, mas também nossa dignidade, fazendo-nos sentir menos humanos e mais como vítimas da vaidade e arrogância alheias. A verdadeira maravilha de ser humano, repleta de falhas e tentativas frustradas de alcançar uma felicidade improvável, reside na capacidade de refletir sobre os mais variados temas, permitindo que intelecto e espírito se encontrem em visões de mundo não harmoniosas, mas complementares, que abrem novas possibilidades para lidar com o caos da vida.

Momentos extremos têm o poder de transformar meninos em homens, mas sempre resta um vestígio de candura que suaviza a austeridade, por mais inadequado que isso possa parecer. A imaturidade infantil, com sua franqueza diante de situações que adultos enfrentam com dificuldade, e a facilidade com que as crianças se adaptam a circunstâncias adversas, são qualidades valiosas em tempos de provação. Essas características, presentes até certo ponto na vida de todos, são essenciais quando a realidade se impõe como um teste implacável, nos pressionando até o ponto de rendição, fazendo-nos parte de um novo e triste mundo.

As ilusões de um menino, confrontadas com a compreensão repentina de seu entorno, no contexto de uma guerra de proporções internacionais, são habilmente retratadas por Mark Herman em “O Menino do Pijama Listrado”. A história destaca o realismo, sem esquecer de celebrar os sonhos persistentes nas palavras e gestos das crianças.

No centro da narrativa de John Boyne está a pureza, que parece ser apenas uma vaga lembrança para aqueles que já passaram dos quinze anos. Herman captura essa essência perfeitamente, insinuando um conflito constante entre aqueles que interpretam a realidade segundo sua sensibilidade e os que são obrigados a acreditar no que seus olhos veem. No primeiro grupo, Bruno, o protagonista interpretado por Asa Butterfield, vive em uma espécie de bolha, mesmo depois de ser desapontado pelos fatos. Apesar de ser apenas um menino de onze anos — e Bruno é ainda mais jovem, com oito —, a interpretação de Butterfield é suficientemente sensível para capturar detalhes como um olhar frequentemente perdido, voltado para o chão, refletindo a intuição de uma criança que percebe algo estranho ao seu redor.

Esse algo é o nazismo, cuja natureza macabra ele não pode definir, mas sente claramente. Seu pai, interpretado por David Thewlis, é um oficial de alta patente de Hitler durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e a mudança da família de Berlim para uma propriedade no interior da Alemanha catalisa o choque de realidade que molda a narrativa até seu desfecho. Nesse momento, Bruno experimenta uma noção vívida da agonia dos judeus ao lado de Shmuel, o verdadeiro menino do pijama listrado (que, na verdade, não é um pijama), papel interpretado pelo igualmente jovem e intenso Jack Scanlon.


Filme: O Menino do Pijama Listrado
Direção: Mark Herman
Ano: 2008
Gênero: Drama
Nota: 8/10