Obra-prima de Jamie Foxx, ignorada pelo público, é um dos melhores filmes da história da Netflix Parrish Lewis / Netflix

Obra-prima de Jamie Foxx, ignorada pelo público, é um dos melhores filmes da história da Netflix

“Clonaram Tyrone!” de Juel Taylor não se limita a ser uma mera sátira político-racial, mas se aprofunda em uma análise complexa e multifacetada da experiência negra nos Estados Unidos. Taylor, junto com Tony Rettenmaier, constrói uma narrativa que combina o thriller sofisticado de Jordan Peele em “Não! Não Olhe!” (2022) e “Corra!” (2017), o terror perspicaz de “Eles Vivem” (1988) de John Carpenter, e a comédia reflexiva de “Feitiço do Tempo” (1993) de Harold Ramis. O resultado é uma obra coesa e uniforme, sem cair na simplicidade ou reducionismo. A narrativa gradualmente leva o público a várias conclusões sobre a vivência negra na América contemporânea, propondo soluções rápidas para problemas históricos e complexos.

Entre os personagens do filme, Michael Jackson (1958-2009) e Tupac Shakur (1971-1996) aparecem de forma inusitada como clientes assíduos do supermercado Piggly Wiggly em pequenas cidades do Centro-Sul dos Estados Unidos, segundo relatos de Slick Charles, um personagem dúbio interpretado por Jamie Foxx. Em meio a conversas frívolas, um jovem negro usando tênis Nike segue Fontaine, um traficante interpretado por John Boyega, cuja aparência desleixada esconde um caráter implacável e disposto a medidas extremas para proteger seu território. Trayce Malachi, como Junebug, pede ajuda a Fontaine para resolver um problema, levando a uma conversa inusitada sobre Bob Esponja em um carro velho, onde o gângster demonstra um interesse disfarçado.

Esses detalhes, juntamente com a fotografia de baixa resolução de Ken Seng e a trilha sonora de Desmond Murray e Pierre Charles, situam a história no início dos anos 2000. No entanto, o diálogo entre Slick e Yo-Yo, a prostituta interpretada por Teyonah Parris, complica a cronologia da trama.

No terceiro ato, uma sequência em uma igreja no Grande Monte Sião começa a desvendar parte da loucura da premissa, com Fontaine, Junebug e o improvável casal interpretado por Foxx e Parris descobrindo uma passagem secreta para um laboratório onde negros são clonados em massa para propósitos semelhantes aos de eletrodomésticos. A voz de Erykah Badu na cena final apenas intensifica a confusão, deixando claro que, de fato, clonaram Tyrone.


Filme: Clonaram Tyrone!
Direção: Juel Taylor
Ano: 2023
Gêneros: Mistério/Fantasia
Nota: 8/10