Nem sempre estamos preparados para as surpresas que a vida nos reserva, mas elas nos acometem implacavelmente, exigindo que respondamos à altura. As mudanças que acreditamos serem essenciais para a nossa felicidade muitas vezes não produzem os resultados esperados. Quando nos damos conta de que as transformações verdadeiramente significativas são mais difíceis de alcançar, o desespero pode tomar conta. A protagonista de “Amor a Três” se encontra em um momento de vida onde múltiplos caminhos se apresentam, cada um com suas próprias possibilidades e desafios, e ela precisa decidir qual seguir antes de iniciar sua jornada.
Após encerrar um longo relacionamento com um homem que ela apreciava – e de quem sente falta apenas quando já não está ao seu lado – e abandonar um emprego que também gostava muito devido à incompatibilidade com a “cultura” da empresa – este último sendo o aspecto que realmente a afeta -, Daphne decide arriscar tudo, mergulhando em relacionamentos com dois amigos bastante distintos entre si, como se buscasse uma compensação do mundo por uma dívida que só ela reconhece, enquanto se adapta a viver provisoriamente na edícula da irmã.
O diretor e roteirista Drake Doremus explora as diversas facetas de Daphne, com Shailene Woodley aprimorando sua atuação ao apresentar a personagem de maneiras únicas. Daphne dirige até a casa de Billie, sua irmã mais velha interpretada por Lindsay Sloane, carregando pincéis no carro com a esperança de ganhar algum dinheiro dando aulas de arte. A experiência de quatro anos como funcionária do LACMA, o Museu de Arte do Condado de Los Angeles, não a auxilia muito, e a anti-heroína de Woodley começa a considerar medidas radicais e equivocadas.
Como em um conto moderno repleto dos vícios atuais, ela é notada não por um, mas por dois pretendentes desiludidos. A narrativa de Doremus dá o devido destaque aos dois galãs do filme, Frank e Jack, que Daphne conhece em uma festa. À medida que a história se desenrola, fica claro que a verdadeira conexão é com Jack, o intelectual charmoso e sofisticado interpretado por Jamie Dornan, que contrasta fortemente com o Christian Grey da franquia “Cinquenta Tons de Cinza”. Juntos, eles discutem literatura, filosofia, a situação dos artistas no mundo contemporâneo, e até tópicos mais triviais como a avaliação de um novo restaurante. Por outro lado, é a relação física intensa com Frank, o típico sedutor vivido por Sebastian Stan, reminiscentemente de seu papel como Lance Tucker em “Medalha de Bronze” (2015), que proporciona a Daphne o sustento carnal necessário para evoluir em seu relacionamento com Jack.
No terceiro ato, os encontros e desencontros de Daphne, Frank e Jack – em uma biblioteca pública, em um café, em um bosque escuro ao anoitecer – cada um reserva uma reviravolta, habilmente interpretada pelo trio de atores. No entanto, a cena mais marcante fica com Woodley e seu belo monólogo em off sobre portas, chaves, derrotas, vitórias e, acima de tudo, amadurecimento. Daphne percebe que não precisa de ninguém; apenas precisa aceitar essa verdade.
Filme: Amor a Três
Direção: Drake Doremus
Ano: 2019
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 8/10