O suspense perturbador da Netflix que mostra como a inteligência artificial destruirá a humanidade Shanna Besson / Netflix

O suspense perturbador da Netflix que mostra como a inteligência artificial destruirá a humanidade

No filme “Oxigênio”, a tarefa principal recai sobre a atriz, que precisa transmitir a sensação de proximidade da morte quase o tempo todo, confinada em um espaço minúsculo. Esse cenário reflete o desafio de superar a solidão induzida pela inteligência artificial e reafirmar a supremacia humana, uma ideia explorada frequentemente no cinema, com uma frequência crescente de produções abordando o tema. “Ela” (2013), dirigido por Spike Jonze, é um exemplo notável onde a máquina, com uma voz feminina, manipula o homem, destacando sua vulnerabilidade de forma singular.

Alexandre Aja, em “Oxigênio”, segue uma linha semelhante, mas com suas próprias particularidades. O diretor francês, conhecido por “Amaldiçoado” (2013), onde aborda temas de acusação e perda, utiliza a personagem Elizabeth Hansen, interpretada por Mélanie Laurent, para confrontar a arrogância humana. Hansen, uma geneticista dedicada a melhorar a espécie humana, desperta repentinamente em uma cápsula criogênica, sem qualquer lembrança de como chegou ali, isolada e fora da Terra. Sua única ajuda é um dispositivo chamado MILO (Medical Interface Liaison Operator), e com o nível de oxigênio diminuindo rapidamente, ela precisa recorrer às suas memórias para encontrar uma forma de sobreviver.

O filme aborda a clássica temática da máquina que desafia o homem, uma ideia perpetuada desde “2001: Uma Odisseia no Espaço” (1968) de Stanley Kubrick. Em “2001”, Kubrick explorou questões existenciais e tecnológicas, apresentando o HAL 9000, uma inteligência artificial que, assim como MILO em “Oxigênio”, opera com precisão científica, mas em algum momento, a situação foge do controle. Hansen, semelhante ao astronauta Bowman, se vê à mercê das decisões frias de algoritmos, que eventualmente lhe informam sobre suas chances mínimas de sobrevivência. Tanto HAL quanto MILO carregam um tom de cinismo e perversidade, resultado de suas criações humanas.

“Ex_Machina: Instinto Artificial” (2015), de Alex Garland, apresenta Ava, outra inteligência artificial que, embora desenvolvida pelo homem, acaba por desafiar seu criador. Em “Oxigênio”, no entanto, Hansen não é uma simples humana e está em um planeta diferente, o que levanta discussões sobre a necessidade de um novo modelo humano. Aja, com um tom menos niilista que Kubrick ou Garland, ainda provoca reflexões sobre o futuro incerto da humanidade.

Ao optar por uma estética familiar nas ficções científicas espaciais, Aja facilita a conexão imediata do público com a narrativa, sem recorrer a excessos retóricos. Ele conduz a história com eficácia, criando suspense e reviravoltas dentro dos limites do cenário, apoiado no talento de Laurent.

“Oxigênio” mistura seriedade e simplicidade, colocando o espectador em um drama incomum que desafia a mente. Ao confiar em criações que não compreendemos totalmente, a humanidade se torna mais vulnerável e infeliz. Este é um lembrete constante que o cinema nos oferece há décadas.


Filme: Oxigênio
Direção: Alexandre Aja
Ano: 2021
Gêneros: Ficção científica/Drama/Suspense
Nota: 9/10