O verdadeiro centro de “A Escavação” é o passado. Baseado no romance “The Dig”, escrito por John Preston e publicado em 2007, o filme dirigido por Simon Stone explora a profunda poesia oculta em Edith Pretty, uma mulher cuja intuição a leva a literalmente escavar o solo em busca de algo que a ajude a lidar com uma perda devastadora. Edith, interpretada por Carey Mulligan, é fascinada pelo espiritismo e encontra-se em um ponto crucial da vida.
Proprietária de uma vasta terra onde viveu em conforto com o falecido marido, Edith agora cria sozinha o filho Robert e se vê em um momento de reflexão sobre sua jornada. Guiada por um instinto que a protege desde a infância, ela sente que há algo mais sob a terra de sua propriedade, algo que pode trazer um novo sentido à sua vida. Convencida de que o terreno guarda uma descoberta surpreendente, ela permite que Basil Brown, um arqueólogo amador e autodidata, investigue o local. Brown acredita que há vestígios da civilização viking, baseando-se em intuições mais sensíveis do que racionais.
A ideia de tesouros enterrados funciona como uma metáfora para as dores de uma mulher solitária, que vivia apenas para o filho, mas é sacudida por uma nova motivação. Brown descobre três sepulturas e, ao perceber que elas guardam segredos de uma civilização quase desconhecida, expande a escavação e desenterra um navio usado para armazenar pertences do rei Raedwald, morto em 624. Este achado remete às práticas dos faraós egípcios, sugerindo uma complexidade histórica que atrai comparações com “o Tutancâmon britânico”.
Edith e Basil, cada um lidando com suas próprias lutas, se encontram na escavação. Edith, ainda lidando com a morte do marido e enfrentando uma doença terminal, se questiona sobre sua culpa e responsabilidade pela doença, possivelmente uma somatização da dor da perda. A psicanálise estava apenas emergindo na época, e o filme levanta a hipótese de que Edith atraiu a doença como uma forma de se reaproximar do marido falecido, embora isso deixasse seu filho Robert desamparado. Basil, sem formação acadêmica, tem seu trabalho desvalorizado e enfrenta a rejeição, apesar de ser fundamental para a escavação.
A conexão entre Edith e Basil cresce à medida que reconhecem e compartilham seus sofrimentos. Mesmo sem poder vencer a morte, a maneira como escolhem viver lhes permite enfrentar o fim com dignidade. O filme sugere que a vida e seu significado vão além do que podemos ver na superfície.
Filme: A Escavação
Direção: Simon Stone
Ano: 2021
Gênero: Drama
Nota: 9/10