Indicado a 2 Oscars, releitura de clássico no Prime Video é experiência divertidíssima para desestressar no fim de semana Divulgação / The Geffen Company

Indicado a 2 Oscars, releitura de clássico no Prime Video é experiência divertidíssima para desestressar no fim de semana

Não é de hoje que a proposta de transformar peças de teatro em filmes faz sucesso. As cenas grandiosas, a fotografia colorida, as coreografias e números musicais deixam a grandiosidade dos palcos e mergulham em uma atmosfera reduzida da câmera, que se traduz para a linguagem cinematográfica.

Frank Oz faz isso com maestria em “A Pequena Loja dos Horrores”, trazendo a releitura de uma peça de teatro musical que já havia sido adaptada para o cinema anteriormente, em 1960, com atuações de Jonathan Haze e Jack Nicholson e direção de Roger Corman. Oz criou sua própria versão, que se tornou a mais lembrada e reconhecida pelos fãs, em 1986.

A trama narra a história de Seymour (Rick Moranis), um jovem tímido e inseguro que trabalha cuidando das plantas de uma floricultura e que é perdidamente apaixonado por sua colega de trabalho Audrey (Ellen Greene), que por sua vez, vive um relacionamento abusivo e problemático com Orin Scrivello (Steve Martin).

Certo dia, durante um eclipse solar, Seymour está andando pelas ruas da cidade quando se depara com uma planta incomum que chama sua atenção. Ele resolve comprá-la e a batiza de Audrey II. Seymour começa a cuidar da planta e decide expô-la na vitrine de sua floricultura. Surpreendentemente, a planta faz com que a loja, que antes era um fracasso, se torne a mais badalada da cidade. Todos querem conhecer a planta nova e peculiar.

Com o passar do tempo, a planta começa a oferecer a Seymour tudo aquilo que ele sempre almejou: sucesso, reconhecimento e fama. Toda a imprensa quer conhecer e divulgar a história de Audrey II, e os clientes de sua loja fazem filas enormes na rua para vê-la de perto.

O que Seymour não imaginava é que Audrey II, na realidade, é uma planta carnívora que se alimenta apenas de sangue humano e, para fazê-la crescer e ficar cada vez mais vigorosa e estonteante, ele precisa sacrificar a vida de alguém. Apenas as pequenas gotas diárias de seu próprio sangue não bastam mais para alimentar a planta. Quanto mais ela cresce, mais aumenta seu desejo por sangue humano.

Simultaneamente, Audrey vive um relacionamento cada vez mais abusivo com Orin, um dentista que sente prazer em ver seus pacientes sentindo dor e é extremamente machista e tóxico com Audrey, sua namorada. Justamente por isso, Audrey começa a retribuir o amor que Seymour sente por ela e sonha com uma vida feliz e harmoniosa ao seu lado.

Quando Seymour percebe que realmente terá de matar alguém para oferecer como alimento para a planta, Audrey II o convence a matar Orin, já que ele estava atrapalhando a atingir seu objetivo de ficar com Audrey. Então Seymour vai até o consultório de Orin para ter uma consulta com ele e leva uma arma para matá-lo enquanto ele estivesse distraído. Porém, o próprio Orin acaba se matando e morre asfixiado com a máscara de gás. Seymour então pega seu corpo, corta em vários pedaços e oferece como alimento para a planta.

Depois disso, a planta também acaba convencendo Seymour a matar seu patrão, o dono da floricultura. Com isso, Seymour é tomado por uma culpa avassaladora e se vê totalmente perdido e sozinho dentro deste cenário, e o filme que parecia uma comédia pastelão nos surpreende com uma bela reflexão sobre valores, ética e responsabilidade.

Em termos de atuação, o filme se garante. Com Steve Martin como o vilão palhaço e grotesco, ele carrega grande parte do humor construído no filme, que tem pitadas de sarcasmo e sadismo. Bill Murray também é um dos pontos altos do filme, fazendo uma participação especial de um personagem que vai até o consultório de Orin e sente prazer em sentir dor, especialmente em consultas médicas.

Por trás desta atmosfera tosca com personagens caricatos, se desenvolve um filme extremamente leve, engraçado e divertido, mas que mesmo assim consegue tratar de temas delicados e mais profundos, como o subúrbio nas cidades norte-americanas, relacionamentos abusivos e a própria sociedade capitalista, já que Seymour se vê totalmente entregue a uma relação de poder com a planta que o obriga a se submeter a atrocidades em troca de fama e dinheiro.

Quando se trata de escolhas cênicas, musicais e de direção, há um espetáculo à parte. Todos os números musicais são tão bem dirigidos que às vezes me peguei confusa, me perguntando se estava no teatro ou no cinema. Com figurinos vibrantes e bem escolhidos para cada personagem, além de performances vocais de altíssima qualidade, o filme cumpre com louvor a premissa clássica dos musicais: o deslumbre e o encantamento.

O humor besteirol, os diálogos bregas, efeitos especiais questionáveis e o estilo sessão da tarde que o filme tem podem parecer características desprezíveis para os amantes de cinema cult, mas para mim, são justamente essas as características que tornam a obra tão genial e deliciosa de assistir.

Na conclusão, há duas versões existentes do mesmo filme: a feita pelo diretor (director’s cut), que é como o próprio autor gostaria que fosse, e a que foi lançada nos cinemas. Nas duas versões, a planta está ainda maior e mais forte e consegue atrair Audrey até a floricultura. Em seguida, ela abocanha a moça com toda a sua força e a empurra para dentro de seu estômago.

Na versão do diretor, Seymour também se entrega para a planta e os dois acabam mortos no final. É uma versão mais macabra, mas que condiz com todo o humor questionável e os personagens bizarros construídos ao longo do enredo. Já a versão que foi para os cinemas é muito mais pacífica e quebra com todo o tom de humor construído no longa.

Na versão dos cinemas, Seymour consegue matar a planta e salva Audrey, e os dois se casam e vivem juntos, felizes para sempre. Já na versão do diretor, as plantas carnívoras começam a ser cada vez mais vendidas e chegam num ponto de domínio total do universo. Pessoalmente, prefiro a versão do diretor, que emplaca um final surpreendente e trágico, que é verossímil com toda a narrativa apresentada.

“A Pequena Loja dos Horrores”, no Prime Video, está entre as melhores apostas que o cinema já fez no gênero de filmes musicais e se estabelece como um filme surpreendente, grandioso em termos musicais, coreográficos e estéticos. Uma história profunda e interessante, um romance cativante e um humor grotesco e contagiante. Um longa essencial para os fãs de carteirinha de musicais e uma ótima pedida para os iniciantes no gênero. 


Filme: A Pequena Loja dos Horrores
Direção: Frank Oz
Ano: 1986
Gêneros: Musical/Terror
Nota: 10