A imprensa livre é um dos principais legados da Revolução Francesa (1789-1799). O artigo 11 da Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovado em 26 de agosto de 1789, consolidou a liberdade de imprensa como um valor essencial para qualquer sociedade democrática. Os Estados Unidos, uma das democracias mais antigas do mundo, valorizam essa liberdade de maneira significativa.
A preocupação em garantir que o interesse público prevaleça alimenta uma saudável competição pela exclusividade das notícias. Existe um desejo inerente de superar a concorrência e revelar o comportamento dos políticos e poderosos quando não estão sob escrutínio. É nesse contexto que “The Post — A Guerra Secreta” se destaca. Assim como em “Munique” (2005) e “Lincoln” (2012), Steven Spielberg aborda dramas históricos com rigor intelectual e um toque de entretenimento. O roteiro de Liz Hannah e Josh Singer revela os bastidores de um dos maiores escândalos dos Estados Unidos, demonstrando que a independência do jornalismo, combinada com coragem, é um antídoto eficaz contra os abusos do poder.
Giuseppe Tomasi di Lampedusa escreveu em “O Leopardo” que certas coisas mudam para que tudo permaneça igual. Todos reconhecem a permanência da internet, que, antes de se tornar uma realidade tangível, já mostrava seu impacto nas relações trabalhistas e no mercado. Nesse cenário, os repórteres são mais necessários do que nunca.
Filmes com um fundo moralizante, que buscam ensinar lições ao público, têm sucesso porque conseguem extrapolar uma premissa individual para inferências genéricas, alcançando um público mais amplo. Cada pessoa sente suas próprias dores, mas essas histórias conseguem ressoar além do óbvio.
Katharine Graham (1917-2001) é uma figura complexa na história americana, cuja história Spielberg narra ao recordar o episódio dos Pentagon Papers. Este evento revelou que o governo dos EUA estava ciente de suas falhas estratégicas na Guerra do Vietnã (1955-1975), mas continuou a afirmar que poderia vencer o conflito. Daniel Ellsberg, então no “The New York Times”, publicou parte dos relatórios secretos e, após deixar o jornal sob ameaça de prisão, foi procurado pelo “The Washington Post”. Graham temia retaliações políticas e econômicas, mas Ben Bradlee, o editor-chefe, seguiu em frente.
A atuação de Meryl Streep, sempre notável, é complementada por um Tom Hanks seguro e com nuances de humor, retratando o temperamento de Bradlee. Spielberg consegue criar um filme coeso que prende a atenção do espectador e ressalta a importância de defender o jornalismo independente.
Filme: The Post — A Guerra Secreta
Direção: Steven Spielberg
Ano: 2017
Gêneros: Thriller/Guerra
Nota: 8/10