O filme perturbador da Netflix, baseado na filosofia de Friedrich Nietzsche, que muitos não conseguirão terminar de assistir Divulgação / Filmax

O filme perturbador da Netflix, baseado na filosofia de Friedrich Nietzsche, que muitos não conseguirão terminar de assistir

As grandes decisões na vida de uma pessoa frequentemente se escondem, surgindo de maneira inesperada em caminhos sinuosos, sem qualquer aviso prévio, prontos para transformar a realidade de forma surpreendente. Esse processo é inerentemente caótico, sem regras que possam conferir-lhe ordem, e cada indivíduo o absorve da maneira que lhe é possível, evidenciando que viver escapa a qualquer previsão.

 A única certeza universal é que a vida é composta por sonhos, muitos dos quais são considerados extravagantes e absurdos, mas perseguidos incessantemente pelo ser humano, ansioso por satisfazer uma fome espiritual que existe desde os primórdios. Esse desejo por algo intangível e invisível serve, paradoxalmente, como o critério para determinar se vale a pena continuar buscando a beleza da vida, que é rara e cuidadosamente oculta. Este é o único modelo a ser seguido para diferenciar entre viver e simplesmente existir no mundo.

Todos almejamos uma vida normal, e, ao alcançá-la, deparamos com diversos desafios inesperados e improváveis, que nos levam a questionar se estamos sendo punidos por faltas passadas que mal lembramos. Ficamos inconformados com a interrupção abrupta de nossa felicidade arduamente conquistada, que parece nos escapar como areia entre os dedos. A vida começa a desmoronar, e, quanto mais tentamos reagir, mais frágil se torna a situação.

Em seu segundo longa-metragem, o diretor espanhol Gonzalo Bendala aborda complexas discussões filosóficas a partir de um acontecimento trágico que envolve todos os personagens. “Quando os Anjos Dormem” explora a reação de um homem comum a um evento que altera radicalmente sua vida, provocando um debate profundo sobre temas como moralidade, livre-arbítrio e psicopatia, além de questões sociais, especialmente no que diz respeito às autoridades policiais.

Criando uma narrativa que se desdobra muito além do esperado após uma análise superficial — como já fizera em “Innocent Killers” (2015), seu primeiro longa — Bendala apresenta a história de Germán, um pai de família amoroso e marido devotado interpretado por Julián Villagrán. O roteiro foca intensamente neste personagem, embora outros também tenham papéis significativos e contribuam para elevar a qualidade do enredo. O grande mérito do filme é convencer o espectador de que Germán é um herói típico, com poucas nuances de personalidade ou temperamento.

Quando seu carro é abalroado ao sair do trabalho para o aniversário da filha, Estela, interpretada por Sira Alonso, ele reage de forma contida, sem sequer soltar um palavrão. A compostura deliberada do personagem é capturada por Villagrán, que usa essa característica para superar o grande obstáculo que ameaça sua vida pacífica. Ficamos com raiva de Germán, mas temos que admitir: ele é um homem capaz de enganar até o próprio diabo. Portanto, ele merece o que lhe vem.


Filme: Quando os Anjos Dormem
Direção: Gonzalo Bendala
Ano: 2018
Gênero: Suspense
Nota: 8/10