O Havaí, ao contrário do que muitos imaginam, não é um paraíso idílico. A vida ali também é marcada por desilusões amorosas, doenças e solidão, com pessoas enfrentando dificuldades e sofrimentos. “Os Descendentes”, de Alexander Payne, expõe essa realidade, apresentando um drama familiar que evita soluções fáceis e o humor superficial. O filme é uma adaptação do romance de Kaui Hart Hemmings, lançado em 2007. Payne equilibra momentos de impacto emocional e humor genuíno, sustentados por um elenco que entende a importância de seus papéis no enredo. O roteiro, coescrito por Payne, Nat Faxon e Jim Rash, funciona como uma máquina bem lubrificada, permitindo que cada personagem tenha seu momento de destaque na medida certa.
A história gira em torno de Matt King, descendente de uma nativa havaiana e um americano, cujos ancestrais acumularam terras e riqueza no Havaí desde o século 19. Um dos conflitos centrais é a decisão sobre uma extensa área de floresta virgem em Kauai, a mais ocidental das ilhas havaianas. Megaincorporadoras desejam transformar a região em resorts de luxo, mas essa decisão é apenas uma das várias preocupações de Matt.
Logo no início, sua esposa Elizabeth sofre um grave acidente aquático, que a deixa em coma. Patricia Hastie, interpretando Elizabeth, emociona com sua presença fantasmagórica, destacando-se pela aparência debilitada e o uso de um tubo traqueal. Enquanto isso, os negócios de Matt parecem estar sob controle, mas os conflitos familiares começam a se intensificar. Matt se mostra ineficaz na criação de sua filha mais nova, Scottie, interpretada por Amara Miller, e busca a ajuda de sua filha mais velha, Alexandra, vivida por Shailene Woodley. Alexandra, que estuda em um internato, revela a infidelidade de Elizabeth, desencadeando uma série de eventos que levam Matt a tomar uma decisão difícil e não lucrativa.
Este filme destaca um dos papéis mais introspectivos de George Clooney. O diretor infunde no personagem de Clooney, Matt, a sensação de estar perdido e perturbado por questões que ele nunca enfrentou. Clooney transmite essa turbulência interna, reforçando a ideia central do filme: a necessidade urgente de tomar decisões difíceis, éticas ou não, que podem causar sofrimento aos que amamos, muitas vezes sem que eles percebam.
Talvez o único motivo pelo qual “Os Descendentes”, na Netflix, não seja amplamente aclamado seja a imagem pré-concebida que o público tem de Clooney, uma imagem que ele inconscientemente valida. Mesmo assim, o filme provoca uma reflexão sincera, especialmente na cena em que Matt, Alexandra e Scottie se reúnem no sofá, com olhares desalentados, cada um perdido em sua própria solidão.
Filme: Os Descendentes
Direção: Alexander Payne
Ano: 2011
Gêneros: Drama/Comédia
Nota: 8/10