A história de amor que ganhou o Oscar e que todas as pessoas deveriam assistir mais de uma vez está na Netflix Divulgação / The Weinstein Company

A história de amor que ganhou o Oscar e que todas as pessoas deveriam assistir mais de uma vez está na Netflix

David O. Russell, em um de seus filmes mais inspirados, reúne dois jovens e atraentes astros do cinema contemporâneo, despojando-os de glamour e apresentando-os como personagens desajustados, enfrentando sérios problemas psiquiátricos que podem ser vistos com certa aversão. A partir desse ponto, ele trabalha na desconstrução dessas personalidades, desnudando as camadas da doença mental — diagnosticada mas tratada de maneira irregular — para revelar a beleza da mensagem que deseja transmitir.

Lançado no Brasil em 8 de fevereiro de 2013, o filme traz um Bradley Cooper muito diferente do que estamos acostumados a ver desde sua estreia na televisão, em “Sex and the City”, em 1999. Construindo sua carreira com disciplina, Cooper talvez tenha encontrado o papel mais significativo de sua trajetória em “O Lado Bom da Vida”. Seu personagem, o professor Patrizio Solitano Jr., ou Pat, desempenha um papel quase pioneiro.

Ao abordar o transtorno mental desencadeado em um homem que, após pegar a esposa no chuveiro com outro, Russell sabia dos riscos que corria. Pat reage violentamente ao flagrar a infidelidade — um evento que o diretor apenas sugere — e essa demonstração inconsciente de virilidade e honra tem um alto custo. O protagonista é internado em um hospital psiquiátrico por oito meses, perde seu emprego na escola onde o amante de sua esposa, Nikki (Brea Bee), também lecionava, e, ironicamente, não consegue deixar de amá-la, se é que tenta.

Forçado a cumprir uma ordem restritiva que o obriga a manter pelo menos 150 metros de distância da ex-esposa, Pat se vê obrigado a morar com os pais, Dolores (interpretada pela experiente atriz australiana Jacki Weaver, em grande forma, tanto aqui quanto em “Reino Animal”, de 2010, dirigido por David Michôd) e Pat Sr. (Robert De Niro, cujo desempenho é inferior ao esperado, especialmente quando comparado a Weaver, com quem contracena frequentemente).

O primeiro ponto de virada do roteiro ocorre com a entrada de Jennifer Lawrence, sempre relevante. Sua personagem, Tiffany, perdeu o marido policial de maneira prematura e violenta, e reage ao trauma envolvendo-se com todos os colegas do escritório, resultando em sua demissão. Apresentados em um jantar oferecido pela irmã de Tiffany, Veronica (Julia Stiles), e seu marido, Ronnie (John Ortiz), Pat e Tiffany rapidamente desenvolvem uma atração única, peculiar às suas personalidades complexas.

A evolução de Pat e Tiffany, de vilões a heróis e vice-versa, é o tema central do filme. Eles desafiam os valores da sociedade à sua maneira, compondo personagens profundos e difíceis de serem julgados rapidamente. A ironia de Russell ao mostrar Pat como louco por reagir como qualquer pessoa normal em sua situação — e a dignidade inconsciente de não punir a adúltera — encontra eco na autodestruição promíscua de Tiffany. Ele, tentando limpar sua honra com o sangue do homem que traiu seu casamento, acaba isolado por oito meses em um hospital; ela, sucumbindo à promiscuidade causada pela falta do marido, é condenada pela família e vive isolada.

Conforme se aproximam, Pat e Tiffany descobrem semelhanças e diferenças em suas personalidades. Desde o início, Pat deixa claro que, apesar de tudo, ainda ama Nikki. Tiffany, percebendo isso, finge aceitar, mas intui corretamente que pode conquistar o coração de Pat. Para se reaproximar de Nikki, Pat decide escrever uma carta se desculpando e propondo recomeçar. Tiffany se oferece para entregar a carta, desde que Pat seja seu par em um concurso de dança.

A partir daí, o filme retrata a química entre Cooper e Lawrence, resultando em cenas memoráveis e uma apresentação única no concurso de dança, o ponto alto do filme. Cooper, com uma atuação minimalista, permite que Tiffany brilhe, destacando a fragilidade de Pat e evitando a canastrice. Seu desempenho é comovente, sugerindo uma força oculta por trás de um homem abalado pela vida, merecendo ao menos uma indicação ao Oscar, como Lawrence, que ganhou o prêmio de Melhor Atriz.

“O Lado Bom da Vida” não se limita a uma competição entre grandes atores ou a uma guerra de egos. Todos os elementos trabalham juntos para proporcionar uma obra coesa e precisa, destacando a ideia de reconstrução da vida e reordenação dos afetos, por mais improvável que possa parecer.


Filme: O Lado Bom da Vida
Direção: David O. Russell
Ano: 2012
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 10/10