“French Exit”, dirigido por Azazel Jacobs, é uma comédia observacional baseada no romance de Patrick DeWitt, lançado em 2018. Jacobs e DeWitt, amigos de longa data que se conheceram quando DeWitt trabalhava como barman, colaboraram novamente neste projeto. DeWitt, antes mesmo de ter qualquer livro publicado, deu os primeiros rascunhos de “French Exit” a Jacobs, que decidiu adaptar a história para o cinema.
O filme é estrelado por Michelle Pfeiffer, que interpreta Frances Price, uma viúva milionária prestes a perder sua fortuna. Vivendo em Nova York como uma personagem de livro, acompanhada por um gato preto que acredita ser a reencarnação de seu falecido marido, Frances decide que quer morrer em Paris quando seu dinheiro acabar.
“French Exit” lembra as comédias neuróticas de Woody Allen e Steve Martin, misturando crônicas ao estilo The New Yorker, jazz e uma certa teatralidade. O filme tem um charme distinto, e Pfeiffer incorpora o glamour e a decadência de Frances de maneira perfeita. Quando se muda para Paris, leva consigo o filho Malcolm (Lucas Hedges), que é tanto um aliado quanto uma vítima de sua relação tóxica.
A narrativa é tristemente cômica. Frances, embora amargurada e verbalmente fulminante, possui uma humanidade que a torna identificável. Rica ao ponto de não compreender a realidade das pessoas comuns, ela ainda assim exibe uma ferocidade e frustração que ressoam com o público. Frances deveria ser uma figura odiável, mas sua complexidade e vulnerabilidade acabam atraindo empatia.
Francis é uma combinação de elegância, estilo e indiferença. Imune ao que acontece ao seu redor, ela não se machuca mais do que já se machucou. Incapaz de confortar seu próprio filho, há uma intimidade evidente entre eles, uma conexão que transcende palavras. Como ela mesma diz, ao vê-lo pela primeira vez, sentiu-se ferida como nunca antes, pois ele é uma extensão dela.
Apesar da arrogância e antipatia de Frances, todos se sentem atraídos por ela. Sua crueldade, de forma surpreendente, não repele. Após ser convidada para uma ‘festa’ na casa de Madame Reynard (Valerie Mahaffey), Frances percebe que é a única convidada. Madame Reynard, uma admiradora, oferece sua amizade, mas Frances reage com aspereza, sentindo-se enganada. A pedido de Malcolm, Frances admite que sua frustração se deve mais aos rumos decadentes de sua vida do que à anfitriã.
Quando seu gato desaparece, Frances, com a ajuda de Malcolm e Madame Reynard, contrata um detetive particular para encontrar Madeleine (Danielle Macdonald), uma quiromante que supostamente tem uma ligação com o animal. Em meio à crise, Susan (Imogen Poots) e seu ex-noivo Tom (Daniel di Tomasso) chegam ao apartamento de Frances em Paris. Susan, ex-namorada de Malcolm, vem a Paris após ser convidada por ele, acompanhada de Tom, que compete por seu amor. A situação se torna absurda e quase cômica, mas os novos personagens preenchem o vazio inicial da história.
“French Exit” não é um filme para todos os públicos. Ele exige que o espectador encontre dentro de si uma certa dose de paranoia e acidez para apreciar o conjunto de personagens excêntricos e cativantes. Para alguns, o filme provoca identificação imediata; para outros, pode parecer tedioso. O filme de Jacobs não busca ser comercial ou relaxante, mas sim uma comédia que demanda esforço emocional e cognitivo.
O filme explora a complexidade das relações humanas através de personagens excêntricos, mas profundamente humanos em suas fraquezas e buscas. Frances é um retrato de alguém lutando contra seus próprios demônios, mantendo uma fachada de controle e indiferença. Sua relação com Malcolm é uma dança delicada entre proximidade e distância, refletindo a difícil dinâmica de um amor maternal carregado de ressentimento e cumplicidade.
A presença de Madeleine e dos outros personagens secundários adiciona uma dimensão quase surreal à trama, ampliando o escopo das buscas internas e externas dos protagonistas. A quiromante, com sua conexão mística, e os dramas amorosos de Susan e Tom enriquecem o enredo com camadas de absurdo e profundidade.
A narrativa, com seu humor peculiar e toques de melancolia, desafia o público a olhar além da superfície. “French Exit”, na Netflix, é uma história sobre aceitação das próprias falhas e busca de sentido em meio ao caos, mostrando que o caminho para a autocompreensão muitas vezes é pavimentado por companhias estranhas e situações inusitadas.
Filme: French Exit
Direção: Azazel Jacobs
Ano: 2020
Gênero: Drama/Comédia
Nota: 8/10