A inteligência artificial, como se pode prever, vem se estabelecendo como uma ameaça crescente à humanidade. Se as tendências atuais persistirem, não demorará até que dispositivos, softwares e robôs de todas as naturezas, atualmente competidores silenciosos e obstinados, se transformem em adversários implacáveis, desenvolvendo estratégias sinistras para subjugar seus criadores.
Esses novos oponentes, inatingíveis e impiedosos, imitarão a brutalidade que o homo sapiens desenvolveu ao longo de mais de 140 mil anos, fruto da ambição desmedida, da sede insaciável por poder e do ódio assimilado em sua convivência conosco. Esse é o ponto central de “Agente Stone”, uma sofisticada distopia dirigida por Tom Harper, que explora a complexa relação entre humanos e máquinas pela perspectiva da personagem principal, uma espiã lidando com questões intrínsecas ao seu ofício, agora também presentes no cotidiano das pessoas comuns.
Harper extrai do roteiro de Allison Schroeder e Greg Rucka os elementos necessários para, em determinado momento, levar o público a acreditar que Stone aparenta insensibilidade frente às profundas transformações do século 21. No entanto, o mais impressionante é a habilidade do diretor em reverter essa percepção, revelando a protagonista como uma figura que, no final, mostra-se tanto temerosa quanto resignada diante de seu destino e do destino dos quase sete bilhões de habitantes da Terra.
Harper inicia seu filme com uma impressionante cena das montanhas nevadas dos Alpin Arena Senales, uma estação de esqui no norte da Itália, onde uma festa suspeita ocorre sob um sol pálido. Rachel Stone, uma das operativas mais talentosas do MI6, o serviço secreto britânico responsável por operações internacionais, está pronta para agir após devorar um pacote de batatas fritas e ouvir as últimas notícias sobre Barry, o gato de Max Bailey, um colega interpretado por Paul Ready.
Gal Gadot incorpora perfeitamente a mistura de doçura e frieza da protagonista, atributos que ela utiliza em sua nova missão: capturar, vivo ou morto, o traficante de armas mais procurado do mundo, que reassumiu o comando de sua quadrilha após três anos se escondendo. Com pouco mais de duas horas de duração, Harper tem tempo suficiente para povoar a trama com personagens moralmente ambíguos, como Parker, interpretado por Jamie Dornan, que vem adquirindo experiência em papéis complexos desde “O Cerco de Jadotville” (2016) e que remete ao antagonista de Henry Cavill em “Missão: Impossível — Efeito Fallout” (2018).
À medida que o segundo ato avança, torna-se evidente que Stone também não é um exemplo de ética em sua profissão, tendo sido recrutada pelo MI6 através da Carta, uma organização clandestina composta por indivíduos solitários e suicidas, dispostos a tudo em nome da paz mundial. Até o desfecho, “Agente Stone” se mantém nessa zona de relativa segurança, brincando com clichês e utilizando excelentes efeitos de computação gráfica, sugerindo uma possível continuação — isso, claro, se o mundo não acabar antes.
Filme: Agente Stone
Direção: Tom Harper
Ano: 2023
Gênero: Mistério
Nota: 8/10