A melhor comédia de suspense da Netflix Kim Simms / Netflix

A melhor comédia de suspense da Netflix

Ao longo da vida, diversos fatores influenciam na formação do caráter de uma pessoa. A relação com os pais, responsáveis por introduzir o indivíduo às experiências boas e ruins do mundo, é um dos principais elementos que moldam seu desenvolvimento. A forma como uma pessoa é educada pode determinar sua capacidade de superar desafios, muitos dos quais são autoinfligidos, como bem sabem aqueles que já passaram pela juventude.

Enfrentar a dura realidade da vida nos ensina que a existência não é tão simples quanto imaginávamos durante nossa infância, limitada ao ambiente familiar e a um círculo restrito de amigos, dos quais poucos se mostram verdadeiros. Este processo de amadurecimento pode nos levar a crer erroneamente que o universo nos deve algo. A felicidade, na verdade, está intrinsecamente ligada a uma série de experiências dolorosas que, com o passar dos anos e com a sabedoria de pensadores como Nietzsche, compreendemos que serviram para nos fortalecer.

As adversidades da vida, que frequentemente beiram o trágico mas sempre esbarram no ridículo, começam a se manifestar desde a infância e se intensificam na adolescência. Esse período é retratado de forma peculiar no filme “Justiceiras” (2022), dirigido por Jennifer Kaytin Robinson. O longa aborda os desafios do amadurecimento em uma era altamente competitiva e desprovida de verdadeira felicidade.

Robinson, junto com a roteirista Celeste Ballard, recorre a muitos clichês do gênero, o que pode tornar a narrativa um pouco cansativa e extensa. No entanto, a diretora consegue contornar esses obstáculos com habilidade, em grande parte graças ao desempenho natural do elenco. “Justiceiras” é um típico filme adolescente, com todos os elementos positivos e negativos que o gênero implica.

Robinson mistura as inquietações do público jovem com referências de humor que podem passar despercebidas pela geração Z, mas que são apreciadas pelos espectadores mais velhos, familiarizados com os anos 1990. Sarah Michelle Gellar, um ícone dessa época, faz uma participação como diretora do colégio onde a história se desenrola. Sua aparição, quase irreconhecível à primeira vista, adiciona uma camada nostálgica ao filme.

Gellar interpreta a diretora que repreende Drea Torres, uma estudante latina interpretada por Camila Mendes. A trama apresenta Drea em uma festa dada por seu namorado rico, Max Brossard, vivido por Austin Abrams. Após um incidente embaraçoso amplificado pelas redes sociais, Drea é enviada para um acampamento, onde encontra Eleanor, interpretada por Maya Hawke, uma personagem que traz caos à história e tem um passado conturbado com Drea.

Se o objetivo de Robinson era capturar o espírito do nosso tempo e fomentar discussões sobre a adolescência em um mundo dominado pela tecnologia, ela certamente alcançou seu propósito. “Justiceiras” apresenta uma série de subtramas que vão além da simples vingança por bullying, refletindo as complexidades da vida adolescente. Embora algumas dessas situações possam parecer triviais para aqueles que cresceram nas décadas de 1980 e 1990, elas têm um significado profundo para a geração atual.

 A presença de Sarah Michelle Gellar e a homenagem a “Segundas Intenções” (1999) no final do filme trazem um toque de nostalgia. O drama de Roger Kumble, baseado na obra de Choderlos de Laclos, ressalta que, independentemente da época, os jovens sempre serão seres turbulentos em busca de seu lugar no mundo. Como bem disse Nelson Rodrigues, o conselho é envelhecer rapidamente, pois a vida adulta, com todas as suas complexidades, é inevitável.


Filme: Justiceiras
Direção: Jennifer Kaytin Robinson
Ano: 2022
Gênero: Comédia/Romance 
Nota: 8/10