Uma enfermidade misteriosa se espalha pelo planeta com rapidez alarmante, sem permitir defesa, transformando humanos em zumbis. Nesse cenário, o governo dos Estados Unidos intervém e convoca um ex-agente da ONU, agora um pai de família pacato, para enfrentar a praga e garantir a sobrevivência da humanidade. Baseado na obra de Max Brooks, “Guerra Mundial Z” prefere complicar tudo em vez de esclarecer.
Mark Forster junta no roteiro de quatro escritores — incluindo Matthew Michael Carnahan, diretor de “Mosul” (2019), uma análise detalhada sobre a atuação das forças americanas na Guerra do Iraque (2003-2011) — elementos como a urgência da preservação ambiental, teorias conspiratórias religiosas, tráfico de órgãos na Alemanha e a irresponsabilidade de companhias aéreas, que ajudaram a disseminar um vírus letal, uma mistura de meningite, varíola e H1N1. Forster cria um filme despretensioso, até absurdo em momentos, onde o desejo de entreter supera a fidelidade científica da narrativa de Brooks — que, diga-se, nunca precisou disso.
Gradualmente, fica evidente que a infestação representada na história é uma metáfora para questões que Forster considera essenciais para a vida na Terra. Com um orçamento de duzentos milhões de dólares, o diretor enche o prólogo com belas imagens do sol nascente sobre o mar, abelhas em uma colmeia, e uma revoada de pássaros, contrastando com a rotina frenética dos nova-iorquinos, sempre apressados, ricos ou pobres, cuidando de suas vidas e buscando lucro. A situação começa a mudar quando um noticiário local relata um grupo de cetáceos encalhados na Costa Oeste; como tudo em “Guerra Mundial Z” é sugerido, isso avisa ao público que a tragédia está próxima, mas ela só ocorre depois que a câmera faz um tour pela casa dos Lane, guiado por Gerry.
Brad Pitt interpreta o cidadão tranquilo que, por motivos obscuros, deixa sua carreira na ONU para cuidar da família, e, forçado pelas circunstâncias, volta à ação, enfrentando inimigos mais perigosos do que jamais imaginara, após um policial em uma moto arrancar o retrovisor do seu carro na Quinta Avenida. Daí para ataques de monstros no Lower East Side ou transpondo barricadas em Israel é um salto literal.
Alguns afirmam que “Guerra Mundial Z”, na Netflix, é uma crítica velada de Hollywood ao governo de George W. Bush (2001–2009), mas acredito que sempre existiram e ainda existem perigos muito maiores do que políticos inexpressivos, seja nos Estados Unidos ou em qualquer outro lugar — e a pandemia de covid-19, de março de 2020 a maio de 2023, confirma isso. De qualquer forma, como disse Churchill, temos um remédio relativamente eficaz contra demagogos e esbulhadores dos bens públicos. Já para mutantes invisíveis, a situação é bem mais complicada.
Filme: Guerra Mundial Z
Direção: Marc Forster
Ano: 2013
Gêneros: Terror/Ação
Nota: 8/10