O romance amado por todos, no Prime Video, baseado em livro com mais de 25 milhões de cópias vendidas no mundo Divulgação / Constantin Film

O romance amado por todos, no Prime Video, baseado em livro com mais de 25 milhões de cópias vendidas no mundo

Todo mundo já pensou em casar com a primeira namorada, ter com ela os filhos que ofereceriam amparo aos dois quando o sol da vida começasse a descer e a velhice fosse uma realidade inescapável — e depois dela a morte, serena e consagradora. Nove décimos da humanidade nunca saberão o que é isso, o que não quer dizer que a felicidade conjugal seja impossível, muito pelo contrário: quanto mais se abre o leque, mais aumentam as chances de surgir, afinal, a tampa da panela.

Rosie e Alex, os protagonistas de “Simplesmente Acontece”, insistem, contudo, em fazer dar certo um romance da primeira infância. Resultado? Um filme enfaroso, soporífero, que não encontra o tom por maior que seja a dedicação do elenco ou dos floreios estilísticos do diretor Christian Ditter. Adaptado de “Where Rainbows End” (“onde os arcos-íris terminam”, em tradução literal), da irlandesa Cecelia Ahern, publicado em 2004, a estrutura cíclica do roteiro de Juliette Towhidi diz as mesmas coisas por 102 minutos, talvez para que o espectador se convença de que não há nada que se imponha no destino de quem se ama. O que se tem é o oposto: fica parecendo que eles resolvem seguir juntos só porque não tinham mais como remediar os fracassos que adoeciam-lhes o corpo e atormentavam-lhes o espírito.

Pelas primeiras cenas, Rosiepareceviver numa bolha colorida, onde mesmo que seus sonhos não se realizem, ela ainda consegue sentir-se plena. Lily Collins por seu turno imprime à personagem o excesso de autoconfiança que acaba por cegá-la, argumento de que Ditter vai se socorrer na iminência da conclusão; até lá, Rosie volta ao tempo em que conheceu Alex, quando os dois contavam cinco anos. A lembrança não poderia ser inapropriada, uma vez que está numa festa de casamento.

O longa quase desenvolve esse arco de modo a despertar em quem assiste alguma empatia pelo sofrimento de um amor maldito que ainda se arrasta por uma eternidade. Collins personifica as mazelas de uma anti-heroína pós-moderna, tentando expurgar suas dores em praça pública. Enquanto isso, Alex pensa que se sai bem ao aparentar superioridade diante da falta que sente da ex-amiga, em especial depois que um imprevisto regado a tequila os une para sempre. 

O bom desempenho de Sam Claflin se equipara ao da intérprete de Rosie, mas desencontros de ordem lógica terminam por enterrar de vez o interesse da audiência por um filme bastante comum, que ostenta um final ditoso apesar dos muitos sinais em outras direções. Quando acaba, parece que eles se esquecem do que passaram. E nós também.


Filme: Simplesmente Acontece
Direção: Christian Ditter
Ano: 2014
Gêneros: Romance/Comédia
Nota: 7/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.