Ganhador do Oscar, filme assistido por 50 milhões de pessoas nos cinemas está no Prime Video Divulgação / Warner Bros.

Ganhador do Oscar, filme assistido por 50 milhões de pessoas nos cinemas está no Prime Video

Haveria algum sentido em refilmar uma história já apresentada por três vezes, em momentos bem definidos ao longo do século 20? Pois Bradley Cooper encontrou uma justificativa bastante plausível para fazer com que “Nasce uma Estrela” rompesse um novo tempo e, adequando-se a detalhes de ordem tecnológica (mas não só), mesmerizasse público e crítica.

A reedição de Cooper para a trama de um artista calejado que ajuda uma aspirante talentosa a subir enquanto se apaixonam passa pelos trabalhos de William A. Wellman (1896-1975), em 1937; George Cukor (1899-1983), de 1954; e Frank Pierson (1925-2012), em 1976; até alcançar uma configuração própria, na qual a força do casal de protagonistas continua a ser a alma do negócio.

O roteiro de Cooper, Eric Roth e Will Fetters ganha uma dimensão épica nas horas em que esses dois espíritos sensíveis cada qual a sua maneira enxergam suas diferenças, o que leva o enredo a possibilidades mais firmes quanto a abranger recortes da vida como ela é sem prejuízo da beleza, às vezes meio envergonhada num registro como esse.

Na introdução, Jackson Maine bebe num inferninho depois de uma apresentação. Jack é um cantor country alternativo já sem muitas perspectivas no showbiz e tem aproveitado seu  ócio cada vez mais elástico e menos criativo para prestar atenção em jovens como Ally, uma ex-funcionária da boate que agora trabalha comocomo garçonete em outro lugar.

Na pele desse menestrel da autocomiseração, Cooper domina um bom quinhão do primeiro ato, sabendo a justa ocasião de sair de cena e abrir alas para que Lady Gaga brilhe, como ao levaruma bela versão de “La Vie en Rose” (1946), de Édith Piaf (1915-1963).Os dois trocam olhares, é claro que ele reconhece na moça uma aptidão incomum, e trata de marcar território, mais por um certo orgulho viril que por vaidade profissional. Ele entoa os versos iniciais de um blues matador, e agora é ela quem não consegue desfazer-se da imagem daquele estranho, um homem visivelmente arisco, mas doce, que gentilmente lhe dá as boas-vindas do seu jeito meio atabalhoado.

Cooper tem se mostrado um realizador habilidoso ao acumular as funções diante e por trás das câmeras. Em “Nasce uma Estrela” já se percebia nele o pendor natural de centralizar os dois papéis numa peça cinematográfica, o que voltou a fazer com desembaraço no grandíloquo e algo pedante “Maestro” (2023), no qual faz um passeio ora aprazível, ora turbulento pela intimidade e, o mais louvável, pelos bastidores da carreira singular de Leonard Bernstein (1918-1990) ao longo de quatro décadas, cercando-se de detalhes básicos, a exemplo dos figurinos de Mark Bridges e da fotografia de Matthew Libatique.

A propósito de Libatique, é ele quem, mais uma vez, mantém o calor desse conto de fadas pós-moderno graças às escolhas sempre certeiras dos tons alegres e sombrios conforme Jack e Ally se atraem ou se repelem,  bem como participações memoráveis a exemplo do Bobby de Sam Elliott, inclinado para um e para a outra. Mais que uma demonstração de vaidade, “Nasce uma Estrela”, no Prime Video, é uma entourage de gente que acredita no que faz, com a música  por pano de fundo. Princípio que se aplica a qualquer um, astro ou não.


Filme: Nasce Uma Estrela
Direção: Bradley Cooper
Ano: 2018
Gêneros: Romance/Musical
Nota: 8/10