O melhor filme indiano da década está na Netflix e vai fazer seu coração transbordar Divulgação / Kross

O melhor filme indiano da década está na Netflix e vai fazer seu coração transbordar

O amor, em sua essência mais humana, apresenta armadilhas complexas. A devoção ao outro frequentemente ocorre às custas do amor-próprio. Essa dinâmica cria um dilema angustiante: garantimos nosso amor à pessoa amada, mas não temos certeza se recebemos a mesma afeição. Esse impasse gera um ciclo de questionamentos e autossabotagem, onde nos perguntamos se nossos esforços para conquistar o outro são genuínos ou impulsionados pelo orgulho e medo do término.

Nos questionamos se o ser amado realmente merece tamanha dedicação e sacrifício, se não estamos sendo excessivamente ingênuos ou indulgentes. Essas reflexões melancólicas podem nos lançar em um limbo emocional, onde as relações se tornam insustentáveis e o ciclo se reinicia, intensificado e destrutivo. Inevitavelmente, questões que pensávamos resolvidas ressurgem, trazendo à tona antigas inseguranças e desafios.

O cineasta indiano Vikas Bahl explora esses temas em “Queen” (2014), um drama envolvente que aborda a perseverança no amor mesmo diante de evidências contrárias. A narrativa acompanha uma jovem abandonada pelo noivo às vésperas do casamento, que decide viajar sozinha para a Europa em uma lua de mel que nunca acontecerá.

O charme da história reside na simplicidade com que Bahl conduz um enredo potencialmente trágico, permitindo que a protagonista, através de suas experiências, reconstrua sua vida e reivindique seu papel principal em sua história. Durante essa jornada, ela enfrenta novos desafios, encontrando soluções instintivas para problemas que surgem em seu caminho.

A personagem principal, Rani, interpretada por Kangana Ranaut, exemplifica uma transformação profunda. Após o abandono, Rani enfrenta um período de tristeza e autocomiseração, questionando suas qualidades e relevando seus defeitos. O roteiro, coescrito por Ranaut, Bahl e outros colaboradores, habilmente traça as mudanças que Rani precisa adotar para evoluir de menina a mulher, apesar da superproteção materna e do apoio contido do pai.

Em Paris, cenas simples e improvisadas mostram Rani admirando a vida ao seu redor, lutando contra a nostalgia de um amor não realizado e encontrando força em sua própria independência. A interação com personagens como Vijay, uma funcionária de hotel interpretada por Lisa Haydon, oferece contrastes e novos ritmos à narrativa, apesar de algumas passagens dispersas ao longo do filme.

“Queen” incorpora elementos típicos do cinema indiano, como os musicais, mas se destaca pela cinematografia de Bobby Singh e Siddharth Diwan. A escolha de tons terrosos e sombrios reflete a personalidade introspectiva de Rani, enquanto a sequência final, esteticamente discreta mas emocionalmente intensa, encerra a jornada da protagonista com elegância e vigor, realçados pela expressividade de Kangana Ranaut.


Filme: Queen
Direção: Vikas Bahl
Ano: 2014
Gênero: Drama
Nota: 9/10