Lisbeth Salander, uma jovem de 26 anos com um estilo gótico, ostenta um corpo pequeno adornado com piercings e tatuagens. Sua aparência discreta esconde um enigma profundo. A narrativa se inicia com uma cena em que Lisbeth joga xadrez com sua irmã, pintada pelo uruguaio Fede Alvarez na abertura de “Millennium: A Garota na Teia de Aranha”. Este filme encerra as aventuras de uma anti-heroína tão complexa que três atrizes diferentes tiveram que interpretá-la.
Em 2009, Noomi Rapace deu vida à hacker vigilante envolvida em uma missão maior do que ela imaginava, revelando verdades pessoais ao desvendar um crime familiar. Embora Rooney Mara e Claire Foy também tenham interpretado Lisbeth, a intensidade de Rapace no papel original é inigualável. Foy, embora excelente em “The Crown” como Elizabeth II, não consegue superar a interpretação inicial de Rapace.
O roteiro de Jay Basu e David Lagercrantz apresenta pontos fracos, especialmente na transição entre os primeiros atos, onde o filme deveria alcançar seu clímax. Lagercrantz, escolhido pela família de Stieg Larsson para continuar a série após a morte do autor em 2004, enfrenta dificuldades em manter a qualidade original.
A complexidade da vida faz com que muitos acreditem em direitos inalienáveis que devem ser respeitados, independentemente de origem, cor de pele, classe social, idade ou religião. Essa crença frequentemente resulta em comportamentos abusivos e violentos, afetando profundamente a vida de outros. A cena em que Lisbeth e sua irmã Camilla estão em uma sala escura transformada em masmorra exemplifica isso. A fotografia de Pedro Luque Briozzo amplifica a sensação de terror iminente, preparando o público para a violência que se segue. Beau Gadsdon e Carlotta von Falkenhayn desempenham seus papéis de forma brilhante, incitando o espectador a especular sobre o destino das duas irmãs.
Alvarez conduz a narrativa para um ambiente de horror, onde a Lisbeth adulta, interpretada por Foy, busca vingança contra abusadores, especialmente no início do filme. No entanto, o diretor não consegue sustentar esse nível de tensão até o final, deixando um enigma sem solução.
A jornada de Lisbeth é marcada por sua luta constante contra os abusadores, a busca por justiça e a tentativa de se reconciliar com seu passado traumático. O filme tenta explorar essas camadas complexas da personagem, mas em certos momentos, perde a profundidade necessária para tornar a trama verdadeiramente impactante. A história se desenvolve em um ritmo acelerado, com cenas de ação e suspense, mas falta uma conexão emocional mais profunda que permita ao público se envolver completamente com a trajetória de Lisbeth.
A escolha do elenco é um dos pontos altos do filme. Claire Foy entrega uma performance intensa e dedicada, capturando a essência da personagem com sua interpretação. No entanto, a comparação com as versões anteriores de Lisbeth interpretadas por Noomi Rapace e Rooney Mara é inevitável. Cada atriz trouxe sua própria perspectiva para o papel, e enquanto Foy se destaca, a sombra das interpretações anteriores ainda paira sobre ela.
A trilha sonora do filme, composta por Roque Baños, contribui para a atmosfera sombria e tensa, complementando as cenas de ação e suspense. A cinematografia de Pedro Luque Briozzo utiliza cores frias e uma iluminação escura para criar um ambiente de constante ameaça, refletindo o estado psicológico de Lisbeth.
A trama aborda temas relevantes como abuso, vingança e justiça, mas em alguns momentos, parece superficial ao tratar de questões tão complexas. A dinâmica entre Lisbeth e sua irmã Camilla adiciona uma camada de drama familiar, mostrando como os traumas do passado continuam a assombrar as personagens.
Em resumo, “Millennium: A Garota na Teia de Aranha”, na Netflix, é uma tentativa de continuar a saga de Lisbeth Salander, trazendo elementos de ação e suspense com um elenco talentoso. No entanto, enfrenta o desafio de estar à altura das interpretações anteriores e de aprofundar adequadamente a complexidade da protagonista. Mesmo assim, oferece uma experiência visualmente cativante e algumas performances notáveis, apesar de não alcançar plenamente seu potencial narrativo.
Filme: Millennium: A Garota na Teia de Aranha
Direção: Fede Alvarez
Ano: 2018
Gêneros: Ação/Crime
Nota: 7/10