Não se leve tão a sério. É sério. Se eu pudesse dar a você um conselho, seria: bote óculos azuis, pinte o cabelo de roxo, arranque toda a roupa que estiver usando e só então comece a filosofar. A chance de coisas sensatas saírem daí é muito maior.
Deboche das minitragédias do dia a dia, tire o sutiã em vez de amaldiçoá-lo; jogue a balança fora em vez de odiá-la; troque a solidez pela corda bamba; pare de arear panelas em vez de voar; assine o divórcio logo, enquanto ouve “I willsurvive” no fone de ouvido. O destino sempre será um gozador: quem não entra na graça acaba sendo a piada. Bom mesmo é arrancar a roupa e pular nos banhos de água gelada que a vida dá.
Não cultive exercícios para memória, isso é sério demais para uma vida tão curta. Uma memória estrategicamente fraca fará dos velhos tempos muito melhores. E por que não? Lembrar-se de tudo com muitos detalhes traz remorso demais, orgulho demais, saudade demais ou dor demais. Nada disso compensa. Tentar congelar a passagem da vida num sopro de lembranças é como concretar uma borboleta na parede. Borboletas só são encantadoras por serem efêmeras; porque vão passar, dançar, encantar e ir embora.
No fim das contas, como já disse algum sábio maluco, nossos maiores gostos costumam ser imorais, ilegais ou engordantes. Ninguém normal aceita isso sem pudor, é por isso que só a loucura conduz à sanidade e à aceitação. A mansidão do louco existe porque ele vê nos abismos a fonte da compreensão.Porque ele olha para baixo e diz para o penhasco quem é que manda, bota sua capa vermelha e — na beirinha do abismo — samba na ponta do pé. Não dá para discutir a vida sendo moral e legal, muito menos fazendo dieta. Permita-se a incoerência, mude de ideia, ataque os bolinhos sem pensar duas vezes. Depois, se lhe fizer bem à consciência, corra como um rato de laboratório, mas não deixe de debochar dessa cena patética, ou a vida se resumirá a pagar boleto e tentar emagrecer.
Aceite: você vai morrer mesmo. A verdade, quando não ofende, causa prazer pela ingenuidade. Há algum charme nos homens e mulheres que circulam em trajes de rigor por aí. São interpretações perfeitas e editadas do que creem interessante, como uma dona de casa que vira o lado queimado da planta para o canto da parede e se convence — por um segundo — de que ele nunca existiu. Mas, pela escassa ingenuidade, há pouca verdade nos ternos apressados e nas donas de casa sabotadeiras.
Viver é coisa importante e, como todas as coisas que importam, não deve ser levado a sério, ou, aos 20, você parecerá ter 90. Cruze a vida pelado e montado num unicórnio voador, sob o sol do meio dia em um céu azul-piscina. E pare de acreditarnessa ladainha de que a vida já foi séria algum dia. Nada importante pode ser sério.