Adaptação de romance mais amado da literatura, filme indicado a 59 prêmios e 4 Oscars está na Netflix Divulgação / Focus Features

Adaptação de romance mais amado da literatura, filme indicado a 59 prêmios e 4 Oscars está na Netflix

Poucos autores conseguiram encapsular a dualidade do amor com a precisão de Jane Austen (1775-1817) e suas personagens, que representam seu próprio reflexo. Reconhecida apenas postumamente, Austen desenhou com maestria o cenário sombrio da sociedade de sua época, especialmente para as mulheres. Seu talento, manifesto em obras como “Orgulho e Preconceito”, só foi amplamente valorizado muitos anos após sua morte, em 1817, devido à doença de Addison, então desconhecida.

“Orgulho e Preconceito”, publicado em 1813, tornou-se um canal pelo qual Austen expressou seus anseios por uma sociedade mais justa, onde mulheres pudessem florescer plenamente, como Elizabeth Bennet. A heroína, sonhadora, nunca compromete sua liberdade ou honra, mantendo um pacto firme consigo mesma. Joe Wright, diretor, capta essa urgência de Austen, mesclando criador e criatura de maneira genuína, sem artificialidade, explorando as personagens nascidas das limitações amorosas de Austen.

O canto dos pássaros ao amanhecer em Netherfield Hall permanece imaculadamente belo, ainda que os tempos sugiram prudência. Lizzie, com um livro em mãos, caminha em direção à grande propriedade rural onde vive com sua família. Londres, a 35 quilômetros de distância, parece um universo paralelo, imperturbável pela serenidade transmitida por Keira Knightley como Lizzie. Durante os 126 minutos de filme, o burburinho das jovens Bennet, ansiosas por casamento, gradualmente se transforma em memórias desbotadas pelo tempo, efeito reforçado pela excelente fotografia de Roman Osin. À medida que o filme avança, a trama revela as outras irmãs Bennet e a chegada de um personagem masculino que agita as paixões mais primitivas das jovens, exceto Lizzie, que mantém suas convicções sobre amor e casamento. Knightley, com habilidade, equilibra-se no turbilhão emocional de Lizzie, enquanto Wright solidifica sua performance.

O baile oferecido por Charles Bingley, um aristocrata genuíno, é a chance que Mary, Kitty, Lydia e Jane esperavam para escapar da pobreza e buscar o amor, nesta ordem. O evento é o palco onde Bingley (Simon Woods) e sua irmã Caroline (Kelly Reilly) circulam junto com figuras como George Wickham, um tenente aparentemente irrepreensível. Estes personagens, juntamente com Rupert Friend como Wickham, acrescentam profundidade ao roteiro de Deborah Moggach, preparando o terreno para o encontro crucial de Lizzie e Darcy.

Quando Darcy, espírito aventureiro como Lizzie, cruza seu caminho no baile, Austen revela sua crença ascética no amor, que Wright explora com maestria. Matthew Macfadyen, como Darcy, complementa a Lizzie de Knightley, e a partir desse ponto, a mágica de “Orgulho e Preconceito” se solidifica. O diretor desenvolve o anti-romance entre os dois, elevando-o a um dos romances mais bem estruturados da literatura, sem esquecer os episódios tensos com Wickham, que acaba casando com Lydia após fugirem juntos.

Mesmo nestes momentos de tensão, a ligação entre Darcy e Lizzie é evidente, mostrando que são feitos um para o outro. Austen, através de Wright, nos mostra que a falsa aversão entre Lizzie e Darcy apenas disfarça uma paixão incontrolável. O domínio de Wright sobre esse elemento retórico destaca-se, pois Darcy e Lizzie, ao colocarem os outros antes de suas próprias angústias, alcançam o amor como prêmio maior, conquistando o mundo sem perder sua essência.


Filme: Orgulho e Preconceito
Direção: Joe Wright
Ano: 2005
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 9/10