Assistido por 150 milhões de pessoas, filme que vai te fazer se sentir como Sherlock Holmes está na Netflix John Wilson / Netflix

Assistido por 150 milhões de pessoas, filme que vai te fazer se sentir como Sherlock Holmes está na Netflix

Com o passar do tempo, a maturidade revela que os laços formados na juventude têm mais chances de perdurar, mesmo diante dos desencontros da vida. A combinação dessa magia com os desejos humanos — mesmo que cada um cresça em seu próprio espaço — resulta em algo novo e enigmático, um sentimento duradouro. No entanto, isso não se aplica aos personagens de “Glass Onion: Um Mistério Knives Out”. No segundo filme da série, Rian Johnson mantém a estrutura de um suspense afiado, explorando as dinâmicas entre ricos entediados que se envolvem em jogos perigosos para escapar da própria irrelevância.

Inspirado por uma canção dos Beatles, o roteiro de Johnson expõe as muitas camadas das relações humanas, revelando como elas podem transformar a luz em energia negativa. O diretor continua homenageando Agatha Christie de maneira original, incorporando humor em uma narrativa envolvente, algo que a Dama do Crime certamente aprovaria. Assim como no primeiro filme, Johnson desafia as convenções do gênero, não se concentrando tanto em quem comete o crime, mas em como e quando o mistério será resolvido.

No filme de 2019, o cadáver era Harlan Thrombey, um famoso autor de contos de mistério, encontrado morto em sua mansão. Aqui, Benoît Blanc, o sofisticado detetive interpretado por Daniel Craig, agora mais experiente, é convidado a desvendar as excentricidades de um grupo de ricos excêntricos. A crítica social de Johnson permanece afiada, destacando a alienação de Kate Hudson como Birdie Jay, uma socialite cuja vida fácil é preenchida por festas escandalosas e comentários nas redes sociais que oscilam entre a ignorância e o preconceito. Isso motiva Cassandra Brand, interpretada por Janelle Monáe, a desenterrar segredos comprometedores.

O maior problema de “Glass Onion: Um Mistério Knives Out” pode ser sua duração prolongada, que leva o público a especular sobre o desfecho. No entanto, isso é algo que pode ser resolvido em uma terceira aventura de Benoît Blanc.

A trama se desenrola com Madame de La Pommeraye, uma viúva rica que se isola no interior após deixar a corte de Luís XV. Cécile de France dá vida a essa mulher que, no início, se mostra desconfiada e cautelosa, marcada por relacionamentos fracassados. Ela resiste às investidas do marquês d’Arcis, um sedutor interpretado por Edouard Baer, que se vangloria de suas conquistas amorosas. Baer encarna perfeitamente o papel do manipulador que se aproveita das fraquezas alheias.

À medida que o marquês prolonga sua estadia, Madame de La Pommeraye, acreditando na transformação do homem, acaba cedendo a seus encantos. No clímax, Mouret introduz personagens como Madame de Joncquieres, uma mulher que sofreu ao ser abandonada grávida por um nobre, e sua filha, Mademoiselle de Joncquieres, destacada por Alice Isaaz. “Mademoiselle Vingança” mantém o espírito dos romances do século 18, com reviravoltas que culminam em um final poderoso. Cécile de France retorna ao centro da narrativa, sem ofuscar os outros personagens.

Alguns críticos podem considerar histórias como essa ultrapassadas, mas eventos atuais frequentemente provam o contrário. Emmanuel Mouret, com seu roteiro detalhado e personagens complexos, oferece uma reflexão sobre poder e vingança em uma época em que a luta por autonomia era ainda mais desafiadora para as mulheres.


Filme: Glass Onion: Um Mistério Knives Out
Direção: Rian Johnson
Ano: 2022
Gêneros: Thriller/Crime/Comédia
Nota: 9/10