O recém-lançado “Irmã Morte” se destaca como uma obra consistente e bem estruturada sobre a personagem principal, uma noviça chamada Narcisa (Aria Bedmar). Considerada milagrosa durante a infância, Narcisa se muda para um convento na juventude, onde enfrenta um espírito atormentado.
A narrativa se desenrola no período pós-Guerra Civil Espanhola. O convento é um palácio medieval sombrio, isolado e cercado por florestas, onde meninas são educadas sob a opressão de um grupo de religiosas idosas e fervorosas. Os países hispânicos têm uma habilidade notável para contar histórias de terror com temas religiosos, provavelmente devido à sua cultura profundamente enraizada no cristianismo. Esse contexto cultural fornece um terreno fértil para tramas envolvendo figuras eclesiásticas.
Em “Irmã Morte”, Narcisa é retratada como uma mulher empática, sensível e humilde. Ao encontrar uma maleta com pertences de uma freira falecida, ela começa a sentir presenças sobrenaturais no convento. Perturbada pela presença invisível, Narcisa confessa suas dúvidas ao padre, que a aconselha de forma simplista, como se quisesse encerrar o assunto rapidamente.
No entanto, sonhos e visões aterrorizantes começam a assombrá-la, colocando sua sanidade em risco. Quando duas alunas mencionam a lenda da “menina”, um suposto fantasma do convento, elas são punidas severamente pela Madre Superiora (Luisa Merelas) e pela irmã Júlia (Maru Valdivielso). Quando uma das garotas aparece morta, Narcisa é responsabilizada por dar credibilidade aos rumores sobre o espírito vingativo.
Desesperada, Narcisa decide deixar o convento. Contudo, ao olhar diretamente para um eclipse solar, ela queima os olhos. Esse evento físico permite que ela transcenda ao espiritual, voltando no tempo para presenciar a invasão de soldados que saqueou e profanou o convento, resultando na violação de irmã Socorro, a dona da maleta. Essa visão revela um passado doloroso que o convento tentou esconder. No entanto, erros precisam ser reparados para liberar o lugar da maldição que o assombra.
O roteiro de Jorge Guerricaechevarría é sofisticado, sucinto e bem organizado, apesar de sua complexidade. Não há tentativas de adornar a história com enfeites visuais desnecessários para explicar o passado de irmã Socorro. Todas as pontas se conectam de forma precisa e modesta, resultando em uma narrativa envolvente e crível. A fotografia de Daniel Fernández Abelló é igualmente elegante e minimalista, utilizando o chiaroscuro e priorizando paletas monocromáticas para criar uma atmosfera sombria.
O terror em “Irmã Morte” se desenvolve mais internamente no espectador do que externamente na tela. O filme semeia o medo gradualmente, sem recorrer a sustos fáceis ou figuras demoníacas grotescas. Em vez disso, o sentimento predominante é de angústia e tristeza. À medida que o mistério se desenrola, a história aborda como a religião pode ser sustentada por hipocrisia, utilizada para oprimir mulheres e esconder segredos sombrios e cruéis.
“Irmã Morte” não depende de efeitos especiais exagerados para criar seu impacto. O horror se manifesta na atmosfera e na tensão crescente, refletindo o sofrimento das personagens e as injustiças do passado. Paco Plaza consegue criar uma narrativa que é ao mesmo tempo aterrorizante e emocionalmente ressonante, explorando temas de fé, culpa e redenção de maneira sutil e eficaz. A trama é uma exploração profunda dos medos humanos e das sombras que podem habitar até mesmo nos lugares mais sagrados.
Filme: Irmã Morte
Direção: Paco Plaza
Ano: 2023
Gênero: Terror
Nota: 10